"É uma tempestade perfeita". João Joanaz de Melo, professor da Universidade Nova de Lisboa e especialista em ordenamento do território, definiu assim os “problemas estruturais” do país que facilitam a propagação dos incêndios.
O fogo já atingiu casas de primeira habitação em Albergaria-a-Velha e em Oliveira de Azeméis, onde um bombeiro morreu durante a pausa para a refeição.
"É obviamente um problema de ordenamento, É um problema da forma como o território está organizado. (…) Hoje em dia temos uma aproximação excessiva entre as zonas habitáveis e as zonas florestais, sendo que muitas são altamente vulneráveis aos incêndios. Há aqui um conjunto de circunstancias que provocam essas vulnerabilidades, circunstancias estruturais que se acumulam ao longo de várias décadas, porque não temos tido uma política florestal adaptada aos novos tempos, à nova demografia, às alterações climáticas. É uma tempestade perfeita", diz Joanaz de Melo.
Portugal está em alerta devido ao agravamento do perigo de incêndio rural. Nesta segunda-feira, quase 1.500 operacionais, apoiados por centenas de viaturas e dezenas de meios aéreos, combatem as chamas. Um cenário que não é novo no país.
Que políticas podem ser implementadas?
Lembrando que “as ondas de calor vão ser cada vez mais frequentes”, o professor da Universidade Nova diz que são necessárias “políticas estruturais para o território”.
"Precisamos de ter uma floresta menos vulnerável aos incêndios, adaptada quer aos novos padrões demográficos quer à situação climática (…) Por exemplo a renaturalização de parte do território, a criação de faixas que enquadrem essas zonas de produção, de monoculturas, com espécies que sejam mais resistentes aos incêndios”.
Joanaz de Melo recorda que as “políticas erradas” e a “falta de atenção ao longo de décadas” impossibilitam uma solução imediata para resolver todos os problemas.
“Isto demora tempo e exige um investimento público. Muitas zonas que ardem são zonas que não são geridas. O principal fator de vulnerabilidade é ausência de gestão”.