Esta terça-feira, Vladimir Putin assinou um decreto que amplia a doutrina nuclear da Rússia, permitindo um uso mais alargado de armas nucleares. Mas o que muda com o decreto?
A revisão da doutrina nuclear russa, que já estava a ser preparada há cerca de um mês, autoriza a Rússia a responder com armas nucleares a ataques com armas convencionais lançados por Estados não nucleares, caso essas armas sejam fornecidas por potências nucleares.
Este novo enquadramento inclui, explicitamente, situações como o envio de mísseis de longo alcance à Ucrânia, autorizado recentemente pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Além disso, o decreto considera outras situações de ataque não nuclear, como os recentes ataques ucranianos com drones em território russo.
Que países têm armas nucleares?
Vale, por isso, compreender o cenário global do poderio nuclear. Atualmente, existem nove países com armas nucleares: juntos possuem mais de 12 mil ogivas. Os Estados Unidos e a Rússia lideram a lista, controlando aproximadamente 90% do arsenal nuclear global.
A China segue com cerca de 500 ogivas, enquanto França e Reino Unido possuem mais de 200 cada. Índia e Paquistão, dois países com uma relação de rivalidade histórica, somam mais de 300 ogivas nucleares. Israel e Coreia do Norte completam a lista, sendo capazes de realizar ataques nucleares.
Numa análise ao novo decreto russo, Rui Cardoso diz que antes de alcançar um "patamar mais elevado" de conflito, como o uso de armas nucleares, há diversas formas de escalada militar, como deslocação de navios, voos ameaçadores de aeronaves e outros gestos intimidatórios, estratégias comuns durante a Guerra Fria.
O comentador da SIC sugere que os maiores perigos ocorrem quando o confronto envolve potências nucleares mais pequenas ou menos previsíveis, pois as grandes potências, como os Estados Unidos e a Rússia, costumam ser cautelosas em situações de conflito direto.
Rui Cardoso destaca que, mesmo com a ampliação da doutrina nuclear russa, a ideia central permanece: o uso de armas nucleares só seria considerado perante uma ameaça existencial ao Estado russo.
O comentador diz também que a Rússia já deslocou ou protegeu o máximo possível de recursos militares importantes, como aeronaves. No entanto, ainda existem alvos estratégicos "fixos" que não podem ser facilmente protegidos ou movidos, como refinarias e fábricas, que continuam a ser pontos vulneráveis e "apetecíveis" para ataques.