Guerra Rússia-Ucrânia

Estudantes ucranianos visitam Portugal e aproveitam para "recarregar energias"

23 estudantes e quatro professores ucranianos visitaram Portugal, durante uma semana conseguiram viver em paz, mas sem nunca esquecerem o que se passa na Ucrânia.

SIC Notícias

Um grupo de estudantes e professores ucranianos visitou Portugal no âmbito do Programa Erasmus. Era já noite quando chegam a Portugal, exaustos após uma viagem que durou quase dois dias: primeiro de autocarro até à fronteira com a Polónia, depois de avião. São 23 estudantes e quatro professoras de uma escola secundária de Lviv.

“Quando iniciámos os projetos internacionais colocámos como objetivo dar oportunidade aos estudantes de ver a vida, o ambiente escolar noutros países.”, explicou Lesia Yukhman, diretora da escola de Lviv.

Os projetos internacionais foram interrompidos pela pandemia de covid-19 e logo a seguir pela guerra. Recomeçam agora com uma viagem de quatro mil quilómetros até Barcelos, onde ficam instalados durante uma semana.

O programa inclui visitas a várias cidades e contacto com estudantes portugueses. As professoras acreditam que esta será uma das viagens mais importantes e impactantes que vão fazer.

"Os estudantes aguardavam muito por esta viagem para que, pelo menos durante uma semana, conseguirem esquecer os problemas que temos na Ucrânia. E dizer "problemas" é dizer o mínimo.", disse uma das professoras.

As docentes sublinham que esta é uma viagem que os alunos precisavam, para receberem “alguma carga emocional positiva” e esquecerem “aquela informação que todos os dias exerce pressão sobre eles”.

Christine está no último ano do secundário e quer seguir medicina. Mas ainda não decidiu se vai continuar os estudos na Ucrânia ou se vai para fora.

"Quando vamos para a Universidade de Medicina somos obrigados a entrar no Exército e não só os homens, por isso ainda não sei o que vou decidir", disse Christine.

Diz que escolheu medicina porque não sente confiança para ser cantora. E no entanto, talento não lhe falta. Christine interpretou, nas ruas portuguesas, uma canção sobre a guerra, que foi escrita por si há um ano.

Na cidade do Porto o grupo visitou alguns dos locais mais emblemáticos, como a estação de S. Bento e o renovado Mercado o Bolhão. Para terminar o dia deram um passeio de barco pelo rio Douro.

Alguns destes jovens tiveram que fugir quando a guerra começou. Christine refugiou-se com a família na Grécia, só o pai ficou na Ucrânia.

"Antes da guerra era uma vida fascinante. Nem sequer consigo exprimir porque éramos como todos os outros adolescentes do mundo. De manhã estudávamos, tínhamos "hobbies", encontros com amigos, estávamos sempre juntos, passávamos as noites com a família, brincávamos, viajávamos", contou Christine.

Há em todos - os que saíram e os que ficaram - um sentimento de gratidão para com os países que acolheram refugiados ucranianos.

"Somos gratos aos governos dos países que apoiam a Ucrânia e que dão casas ao nosso povo. E, claro, não só aos governos mas também às pessoas comuns que nos dão comida e casas e roupas.", disse um dos estudantes ucranianos.

A diretora da escola ucraniana ressalta que os jovens que crescem durante este período conturbado, acabam por crescer mais depressa, porque veem “muita coisa que não é suposto pessoas da idade deles verem”.

Para os estudantes, estar em Portugal é estar em segurança. Um local onde podem “recarregar energias, aproveitar o sol e não pensar nos rockets" que os "podem matar".

Todos têm um familiar ou um vizinho na guerra e todos sentem que têm obrigação de ajudar o país. Aos 16 anos ajuda-se estudando.

“Penso que é a minha obrigação. Tenho que crescer, tenho que estudar e tenho que reconstruir a nossa Ucrânia depois da guerra.”, disse um estudante ucraniano.

Para Portugal trouxeram um pouco da história da Ucrânia, que deram a conhecer aos alunos da Escola Secundária de Barcelos.

O futuro é incerto e isso é algo que preocupa os jovens ucranianos que são a “geração da guerra”.

“Não sabemos como vai ser o futuro. Eu penso nisso constantemente e preocupo-me muito com a minha família”, contou um estudante.

Há vários anos que alunos, famílias, professores e funcionários da Secundária de Barcelos fazem intercâmbios com aquela que é uma das mais antigas escolas da Ucrânia.

Desta vez a viagem teve a chancela do programa Erasmus que oferece a milhões de europeus a oportunidade de estudar, estagiar, ter formação e ganhar experiência no exterior.

A semana em Portugal passou a correr. Entre atividades na escola e momentos de lazer em várias cidades os estudantes ucranianos aproveitaram ao máximo para absorver um pouco da cultura portuguesa e, sobretudo, para descansar.

Na hora da despedida deixam o convite aos portugueses para visitarem a Ucrânia, mal regresse a paz.




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