Vladimir Soloviov, apresentador de um programa televisivo pró-Kremlin de grande audiência na Rússia, visitou a linha da frente da invasão da Ucrânia, onde ouviu de soldados russos críticas aos abastecimentos e à anterior liderança militar.
A má qualidade da comida e da água foi apontada, no programa emitido na noite de domingo (madrugada em Lisboa), por elementos de uma tripulação de helicópteros.
"Mas quem é que confecciona a vossa alimentação?", perguntou-lhes Soloviov. "Somos nós próprios", reponderam-lhe. "Quando voam, levam sempre com eles pistolas e granadas, pois nenhum deles quer ser feito prisioneiro", afirmou Soloviov durante o referido programa.
Os militares russos da força aérea fazem 3, 5 ou até 7 operação por dia, "consoante as necessidades", referiu. Segundo Soloviov, na frente grassa também evidente descontentamento com a forma como o antigo comando conduziu a estratégia ofensiva das tropas russas.
"Os golpes [contra a Ucrânia] deveriam ter sido mais contundentes", criticaram alguns militares. O tenente-general na reserva Andrei Guriolov, deputado da Duma e participante no programa de Soloviov, advogou mesmo o "apuramento de responsabilidades do antigo comando" e disse confiar plenamente no general Serguei Surovikin, o atual responsável pelas operações militares na frente ucraniana.
Nesta sua digressão pela frente, o apresentador televisivo deu também conta do desagrado dos militares com a forma como certos setores da sociedade encaram o duro conflito, rejeitando "estratégias defensivas e de conversações".
"Nós lutamos aqui, arriscamos a vida, vemos camaradas a morrer. Ligamos a TV e vemos mulheres e crianças a morrerem no Donbass [região ucraniana onde a russa alega que a comunidade russófona tem sido alvo de genocídio]. Não sabemos se o país sabe o que está a acontecer, se sabe o tipo de inimigo que estamos a enfrentar", disse um militar.
"Para o Ocidente e a Ucrânia, quantos mais russos morrerem melhor (...). Não é por acaso que levamos sempre granadas no bolso, quando levantamos voo. É que conhecemos o tipo de inimigo com que estamos a lidar", afirmou outro soldado ao apresentador do Canal 1 transmite.
Segundo Soloviov, o objetivo da ida ao terreno foi observar os efeitos da recente mobilização parcial e o Ministério da Defesa assegurou total acesso a soldados, médicos, artilheiros e trabalhadores de uma fábrica de equipamentos militares.
O apresentador pró-Kremlin disse ter ficado "impressionado" com o alto grau de profissionalismo e moral de todos, apesar das críticas. Os militares russos "não têm medo de nada, falam abertamente de tudo, dizem o que têm a dizer frontalmente", disse Soloviov.