Um grupo de soldados russos acusam os seus superiores no leste da Ucrânia de os deterem ilegalmente. Isto porque recusaram continuar a combater contra os ucranianos. O jornal The Guardian conseguiu aceder a um documento escrito por um soldado, agora prisioneiro russo, enviado a procuradores russos. "Vladimir" revela como foi preso durante mais de uma semana em Lugansk, atualmente controlada pelos russos.
O soldado russo conta que decidiu afastar-se do campo de combate porque acredita que têm existido "erros táticos e de estratégia" cometidos pelos seus comandantes e refere o "total desprezo pela vida humana" como um dos motivos.
"Vladimir", o nome que utiliza para ocultar a sua verdadeira identidade, disse ter sido detido a 19 de julho e esteve enclausurado com mais 25 soldados, que também tinham desistido da guerra. Nessa unidade não tinham qualquer acesso à comida.
Pouco tempo depois, "Vladimir" foi encaminhado para uma escola na cidade de Bryansk, convertida numa base militar com cerca de 80 soldados. Eram alimentados apenas uma vez por dia e estavam sob constante vigilância de um grupo de mercenários intitulado Wagner, que está acusado de violações dos direitos humanos.
Aos prisioneiros disseram que a base militar estava rodeada por minas e que se tentassem escapar, seriam considerados inimigos e consequentemente teriam de ser abatidos, escreveu "Vladimir".
"Durante todo esse tempo não nos entregaram qualquer documento que explicasse o porquê da nossa detenção. Fomos detidos ilegalmente", denuncia, num testemunho enviado aos procuradores russos e a que o jornal britânico teve acesso.
"Vladimir" disse que, durante a sua detenção, os comandantes exerciam pressão sobre os prisioneiros, instando-os a mudarem de ideias e a regressarem aos campos de batalha.
"Alguns soldados, sob ameaça de violência, foram simplesmente expulsos para destinos desconhecidos e nunca mais voltaram a ser vistos", afirma o soldado.
O soldado só conseguiu ser libertado quando um médico recomendou que fosse hospitalizado devido aos ferimentos sofridos no início da guerra. "Vladimir" exige uma investigação criminal a dois comandantes russos e um major, que diz serem responsáveis pela sua detenção.
Maxim Grebenyuk, um advogado que dirige uma organização de advocacia militar em Moscovo, disse ter uma lista de 70 soldados que foram mantidos prisioneiros. Pelo menos quatro soldados russos redigiram queixas à comissão de investigação, exigindo a punição dos seus superiores.
O Ministério russo da Defesa evitou responder às questões do The Guardian a respeito desta notícia e ainda não é claro se os soldados ainda permanecem presos em Lugansk.
O Kremlin ainda não declarou oficialmente guerra, o que significa que os soldados contratados que optam por não lutar são despedidos, mas não podem ser processados ou presos, disse Mikhail Benyash, um advogado que, no passado, representou soldados que recusaram a ordem de ir até à Ucrânia.
Esta notícia demonstra a disponibilidade dos soldados em combater na Ucrânia, à medida que a guerra se aproxima do sexto mês.
Os serviços secretos ocidentais explicam que a Rússia esgotará em breve as suas capacidades de combate e será forçada a suspender a sua ofensiva da Ucrânia.