Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito (XLIV): o precedente austríaco

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Germano Almeida

Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 – CHANCELER AUSTRÍACO EM MOSCOVO COM PUTIN

O chanceler austríaco, Karl Nehammer, será o primeiro líder de um país europeu a encontrar-se com Vladimir Putin desde o início da guerra russa na Ucrânia.

Nehammer vai deslocar-se a Moscovo, dois dias depois de ter estado em Kiev com Zelensky: “Vou encontrar-me com Vladimir Putin em Moscovo amanhã. Nós [Áustria] somos militarmente neutros, mas temos uma posição clara sobre a guerra de agressão russa contra a Ucrânia”, escreveu, domingo. Nehammer na sua conta oficial no Twitter. O líder do executivo austríaco também pediu corredores de evacuação, um cessar-fogo e uma “investigação completa de crimes de guerra” e disse que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, os líderes da UE e o presidente turco Recep Tayyip Erdoğan foram informados sobre a reunião com Putin.

Dado muito preocupante das últimas horas: os separatistas pró-russos de Donetsk expulsaram a missão de observação para a Ucrânia da OSCE. Porta-voz das milícias separatistas de Donetsk disse, citado pela imprensa russa, que o funcionamento da missão da OSCE foi considerado ilegal no território da autoproclamada república e a presença dos seus membros indesejada. Pontos a olhar com atenção nos próximos dias: Karkhiv, Donestsk, Borova, Luhansk – mas também, a Sul, Kherson, Mykolayv e Odessa. Inteligência militar britânica aponta: os russos vêem-se na necessidade de enviar militares aposentados há muito tempo. As forças armadas russas tentam reforçar o número de tropas com pessoal dispensado do serviço militar há uma década, por força das perdas inesperadas que tiveram nestas seis semanas de guerra. As forças russas também estão a tentar recrutar na região não reconhecida da Transnístria, na Moldávia A Rússia reivindica ataques com mísseis nas regiões ucranianas de Dnipropetrovsk, Mykolaiv e Kharkiv.

Ontem, na Alemanha, cerca de 600 manifestantes pró-Rússia formaram hoje uma coluna de 350 carros numa manifestação em Hanover, no norte da Alemanha, no domingo. Mas uma contra-manifestação de cerca de 700 pessoas apoiando a Ucrânia no centro da cidade também ocorreu, disse a polícia local. Segundo a Reuters, a comitiva protestava contra a discriminação contra cidadãos russos na Alemanha após a invasão da Ucrânia por Putin.

2 – “PROJETO EUROPEU É UM ALVO”, AVISA ZELENSKY

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, considera que a Rússia está a atacar toda a Europa com a agressão ao seu país, ressalvando que impedir a invasão da Ucrânia é essencial para a segurança de todas as democracias. Zelensky avisou que a agressão russa “não se destina a ser limitada apenas à Ucrânia” e que “todo o projeto europeu é um alvo”: “É por isso que não é apenas dever moral de todas as democracias, de todas as forças europeias, apoiar o desejo de paz na Ucrânia”, disse, sublinhando que “isto é, na realidade, a estratégia de defesa para todos os Estados civilizados”.

Zelensky agradeceu ainda aos primeiros-ministros do Reino Unido e da Áustria pelas suas visitas, este sábado, a Kiev e por promessas de mais apoio.

3 – COLUNA MILITAR RUSSA DE 13 QUILÓMETROS A CAMINHO DO DONBASS

Uma caravana de veículos militares russos, com uma extensão de 13 quilómetros, está a dirigir-se para a região de Donbass, no leste da Ucrânia, segundo imagens de satélite. Nos últimos dias, a Rússia retirou as suas tropas da parte norte da Ucrânia, em torno de Kiev, e voltou a concentrá-las no leste do país.

Os russos pretenderão selar o controlo do arco entre Kharkiv – a segunda maior cidade ucraniana –, no norte, a Kherson no sul. Dados recentes apontam para que as forças ucranianas estão a ameaçar o controlo russo de Kherson e a anular ataques russos em outras partes do Donbass, região industrial e onde a maioria da população fala russo. A Rússia precisa de vitórias militares na Ucrânia e vê no Donbass a oportunidade mais imediata.

4 – ALEMANHA DIZ ESTAR NO LIMITE DA ENTREFA DE ARMAS À UCRÂNIA

A ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, não vê qualquer possibilidade de fornecer à Ucrânia mais armas das reservas das forças armadas alemãs. Para Lambrecht, as futuras entregas deviam realizar-se através da indústria de armamento: “Claro que todos somos chamados a apoiar a Ucrânia na sua corajosa luta. Todavia, tenho de o dizer, com honestidade, que atingimos um limite quando se trata de entregas de reservas da ‘Bundeswehr”.

As tropas alemãs “devem continuar em posição de assegurar a defesa nacional e da Aliança”. “É por isso que também esclarecemos o que a indústria poderia fornecer diretamente. Estamos constantemente a coordenar com a Ucrânia a este respeito”, apontou.

5 – SUÉCIA PODE SEGUIR A FINLÂNDIA NO PEDIDO DE ADESÃO À NATO

A Finlândia deverá concretizar pedido de adesão à NATO nos próximos meses, entre julho e setembro. Caso esse passo se concretize, como tudo indica que irá mesmo acontecer, o líder do segundo maior partido de oposição na Suécia deverá sugerir que o país faça o mesmo. Se assim for, poderá haver uma maioria parlamentar favorável à adesão da Suécia à aliança. “A minha intenção é ir ao conselho do partido com um pedido para que mudemos de ideia [caso a Finlândia peça a adesão]”, afirmou Jimmie Akesson, líder do partido Democrata Sueco, este sábado ao diário “Svenska Dagbladet”, citado pela agência Reuters. “O que mudou agora é que a Finlândia está claramente a mover-se em direção à adesão à NATO e há muitas indicações de que isso pode acontecer num futuro próximo. Isso e o facto de a Ucrânia, que não é membro da NATO, estar completamente sozinha, fez-me mudar.”

A Finlândia tem uma fronteira de 1.300 km com a Rússia. A Suécia também se sente ameaçada pela agressão expansionista de Putin, embora esteja menos exposta geograficamente ao “urso” russo.

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