Uma resolução “humanitária” sobre a Ucrânia apresentada pela Rússia no Conselho de Segurança da Organização da Nações Unidas (ONU) foi chumbada esta quarta-feira, sem surpresas, com dois votos a favor e 13 abstenções.
Para ser aprovada, a resolução precisava de um mínimo de nove votos favoráveis no Conselho de 15 membros e nenhum veto de um dos outros quatro membros com esse poder.
A resolução “humanitária” sobre a Ucrânia elaborada pela Rússia foi vista por vários diplomatas como uma “hipocrisia”, tendo em conta que foi a própria Rússia a causar “esta guerra ilegal”, estando condenada ao “fracasso” devido à falta de apoio.
“É realmente inconcebível que a Rússia tenha a audácia de apresentar uma resolução pedindo à comunidade internacional que resolva uma crise humanitária que só a Rússia criou. Os Estados Unidos pretendem abster-se porque, para dizer o óbvio, a Rússia não se importa com a deterioração das condições humanitárias, ou com os milhões de vidas e sonhos que a guerra destruiu. Se eles se importassem, parariam de lutar”, avalia a embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, antes da votação.
Após a votação, vários embaixadores frisaram que não votaram favoravelmente à resolução porque esta não identifica a Rússia como o agressor, além de ter sido apresentada pelo próprio autor do conflito.
“Isto não é uma resolução humanitária, é uma distração, porque se a Rússia se preocupasse com os cidadãos, pararia esta guerra”, afirmou, por sua vez, a embaixadora da Noruega, Mona Juul.
A posição da China
Já a China, aliada russa que tem evitado condenar a invasão da Ucrânia, lamentou que o Conselho de Segurança não tenha conseguido chegar a um acordo em relação às questões humanitárias.
De acordo com Pequim, o seu voto favorável à resolução russa foi baseado na necessidade de resolver a questão humanitária na Ucrânia e para facilitar a evacuação de civis.
“A China adere a uma política externa independente”, frisa o embaixador chinês, Zhang Jun.
A reação russa
Já o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, avalia que esta votação “expôs todos aqueles politizam a assistência humanitária”, pois a resolução previa a possibilidade de um cessar-fogo, evacuação de civis, assim como impedimento de ataques a zonas residenciais ou proteção de feridos, mulheres e crianças.
“Quando se lamentarem que estas coisas não aconteceram, iremos recordar-vos que vocês não votaram para que isso acontecesse”, diz o diplomata da Rússia, argumento que foi duramente criticado pela maioria dos embaixadores.
Duas resolução rivais
A derrota russa ocorreu no mesmo dia em que a Assembleia Geral da ONU deu início à avaliação de duas resoluções rivais sobre a situação humanitária na Ucrânia.
Uma resolução apresentada pela França e pelo México – e apoiada pela Ucrânia e co-patrocinada por mais de 80 países – responsabiliza a Rússia por toda a situação humanitária em solo ucraniano. Outra resolução humanitária, da autoria da África do Sul, deixa de fora qualquer responsabilização de Moscovo.
A avaliação destas duas resoluções na Assembleia Geral da ONU continuará na quinta-feira.