Guerra no Médio Oriente

Um ano dos ataques de 7 de outubro: ainda não se vê a luz ao fundo do túnel

Passou um ano desde os massacres de perpetrados pelo Hamas, em Israel. O dia 7 de outubro de 2023 foi o mais negro da História de Israel e do povo judeu desde o Holocausto.

Henrique Cymerman

“É possível que esteja a ver dois terroristas em mota a entrar no kibutz?”, perguntou, ao telefone, ao marido uma residente de Niros, que estava a fazer jogging às 6h45 do dia 7 de outubro de 2024. “Pelo amor de Deus, mulher, que estupidez. Vem para o abrigo. Estão a chover centenas de rockets em Gaza.” O marido tinha razão. Não eram dois terroristas. Eram milhares de homens do Hamas, que entraram por 120 pontos da fronteira, com a missão de matar, queimar, saquear e sequestrar israelitas em 22 povoações da fronteira com Gaza.

No kibutz Nir Oz, por exemplo, mais de um quarto da população foi morta ou levada à força para Gaza, quando muitos ainda estavam em pijama.

Mais de 1.200 israelitas foram assassinados no sábado negro e 252 sequestrados para os túneis do Hamas, naquele que se transformaria no dia mais negro da História de Israel e do povo judeu desde o Holocausto.

Dolev, de 30 anos, era enfermeiro. Quando percebeu que o kibutz estava a ser atacado, foi ajudar os membros da comunidade que tentavam defender-se. A sua mulher grávida, Sigal, e os três filhos dos dois, ficaram no abrigo da casa. O pai de Sigal, Marcelo, chegou horas depois.

"Às 8h52, ele mandou a última mensagem. A dizer que a amava. Desde esse momento, nunca mais soubemos nada dele", conta Marcelo. "A minha filha deu à luz nove dias depois."

Dolev, o enfermeiro, esteve desaparecido durante meses. Ironicamente, a esperança da família era que tivesse sido sequestrado para Gaza.

"Disseram-nos que tinham encontrado um corpo e deram-nos a má notícia de que tinha sido assassinado no dia 7 de outubro", recorda o sogro de Dolev.

Nesse dia, a irmã de Dolev, Arbel foi sequestrada com o namorado Ariel Cunio. Até hoje, ambos são prisioneiros em Gaza.

As balas na porta de ferro, uma família morta

Tamar Kedem Simantov e o marido Yonatan Simantov, de 36 anos ambos, tinham três filhos. Fecharam-se num quarto, para se refugiarem. Quando os homens do Hamas entraram pela casa adentro, viram que não conseguiam chegar até eles. Simplesmente dispararam através da porta de ferro, onde ainda hoje estão os buracos das balas.

As balas conseguiram passar e feriram gravemente Yonatan, o marido de Tamar. Começou a perder muito sangue. Depois, também Tamar foi ferida pelos disparos. As três crianças estavam ali, impotentes, enquanto os pais estavam a morrer.

Tiveram de esperar horas até chegarem as forças de resgate. Quando finalmente isso aconteceu, as três crianças já tinham morrido, asfixiadas. Estavam deitadas na cama. Os pais também estavam mortos.

Quando a festa deu lugar às mortes e violações

Os terroristas não sabiam que noutro kibutz vizinho, 4 mil jovens israelitas tinham dançado durante toda a noite, na Festa da Natureza da Nova.

Quando aterraram no lugar da festa, depois de uma chuva de rockets, abriram fogo matando 364 jovens a sangue-frio.

Muitas jovens foram violadas pelos terroristas e várias dezenas foram levadas à força para os túneis de Gaza. Alguns dos reféns que voltaram dizem que houve muitos abusos sexuais e violações de mulheres e de homens, por vezes quando os guardas as acompanhavam à casa de banho.

Em Israel, organizações feministas protestam contra a indiferença de movimentos irmãos internacionais.

"A violação das mulheres está a afetar a sociedade israelita. Estas mulheres, agora, têm de fazer terapia. Vivem com medo, não conseguem falar sobre isso, e talvez nunc avenham a conseguir", afirma Orit Sulitzeanu, da Associação de Luta Contra a Violência Sexual.

A mais longa guerra da História de Israel

O ataque sem precedentes do Hamas abriu sete frentes de guerra no Médio Oriente. O 7 de outubro provocou mais de 1.200 mortos em Israel e uma operação militar israelita que destruiu parcialmente 60% das casas de Gaza e provocou a morte de 18 mil homens do Hamas e de dezenas de milhares de civis.

Com uma guerra contra o aliado do Hamas, o Hezbollah, na chamada Terceira Guerra do Líbano, orquestrada pelo Irão, a região vive a escalada mais perigosa. É a guerra mais longa da História de Israel.

"O problema não é a religião. O problema são as pessoas extremistas que interpretam a religião de outra forma. A Humanidade tem de perceber que não pode viver na escuridão. Temos de viver onde está a luz", diz Marcelo.

Um ano depois, ainda não se vê nem uma pequena luz no fim do túnel.

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