Dez anos depois da ruína do império Espírito Santo, Ricardo Salgado começou esta terça-feira a ser julgado. O antigo banqueiro é o principal dos 18 arguidos num processo único em Portugal, pela dimensão e pelos prejuízos.
Minutos antes das 09:30, hora marcada para o inicio do julgamento, Ricardo Salgado chegou ao Campus de Justiça amparado pela mulher e pelo advogado com visíveis dificuldades em andar entre os muitos jornalistas e os lesados do BES até à porta principal.
Quem perdeu mais de 100 mil euros confrontou Ricardo Salgado com a exigência de justiça.
"O senhor [Ricardo Salgado] mandou-nos um documento escrito de que deixou uma provisão. Onde está a provisão do Novo Banco? Onde está a provisão? Eu estou sem o meu dinheiro. Eu exijo a provisão que é dos lesados", afirmou Jorge Novo, da Associação dos Lesados do Papel Comercial do BES.
A defesa tinha requerido ao tribunal que face ao diagnóstico de Alzheimer se extinguisse ou suspendesse o processo criminal, mas o pedido foi recusado. Só um atestado médico poderia justificar a ausência do ex-banqueiro no julgamento onde é acusado de 62 crimes.
À chegada ao tribunal a defesa de Ricardo Salgado não quis falar, contudo, uma hora depois feita a identificação de Ricardo Salgado que foi dispensado da audiência falou da falta de consciência do ex-banqueiro.
O advogado de defesa, Francisco Proença de Carvalho, considerou que se abriu "uma página negra" na justiça portuguesa
"Uma justiça que humilha, que viola a dignidade de qualquer pessoa é uma justiça que viola a sua própria dignidade", disse o advogado Francisco Proença de Carvalho . "Não entendermos isso só porque a pessoa se chama Ricardo Salgado, para mim é incompreensível aquilo que está a acontecer, e é uma vergonha mundial no mundo civilizado. Na Rússia, talvez seja uma coisa apreciada, mas aqui não", acrescentou.
Ricardo Salgado que acabou por sair pela garagem é um dos 18 arguidos que responde num dos mais complexos processos de sempre.
À entrada poucos dos mais de 60 advogados quiseram falar.
Nesta primeira sessão foram identificados todos os arguidos e começaram as alegações iniciais do Ministério Público. A procuradora falou de uma árdua tarefa num processo único na dimensão e prejuízo.
Carla Dias acusou "Ricardo Salgado apropriou-se do património de terceiros", "recrutou a soldo um conjunto de funcionários para os seus desígnios criminosos" e desde 2009 a 2014 "com promessa de pagamentos, comandou um grupo restrito de pessoas para fins criminosos".
No julgamento que teve inicio 10 anos depois do colapso do Grupo Espírito Santo estão em causa mais de 300 crimes.