Europeias 2024

O debate em que Temido atacou Von der Leyen e o Chega admitiu mudar de família europeia após as eleições

Marta Temido, Sebastião Bugalho, António Tânger Corrêa e João Oliveira foram os candidatos protagonistas do quinto debate televisivo das eleições europeias.

Rita Carvalho Pereira

Os candidatos do PS, da Aliança Democrática, do Chega e da CDU às eleições europeias estiveram, esta noite, em debate, na RTP. Os resultados das mais recentes sondagens – que apontam para um empate técnico entre socialistas e AD -, o avanço da extrema-direita perante os valores europeus, o envolvimento da União Europeia na guerra e as migrações foram os grandes temas em cima da mesa.

A grande revelação do debate foi feita pelo Chega, que admitiu mudar de família europeia, depois de ver os resultados das eleições de 9 de junho. Houve ainda espaço para a candidata do PS atacar a presidente da Comissão Europeia, por “abrir a porta à extrema-direita”, e para o candidato comunista defender as posições do líder da Igreja Católica.

O fantasma das sondagens

As mais recentes sondagens feitas pela Universidade Católica apontam para um empate técnico entre a Aliança Democrática e o Partido Socialista nas eleições europeias, com os primeiros a conseguir 31% nas intenções de voto e os segundos a receber 30%.

Se, questionada sobre estes resultados, Marta Temido afirma que não lhe interessa comentá-los - apesar de garantir assumir todas as responsabilidades -, já Sebastião Bugalho declara-se mesmo satisfeito e afirma que já supera as expectativas.

António Tânger Corrêa, cabeça de lista do Chega, admite que não é uma “figura tão conhecida” como os restantes candidatos e refere que terá André Ventura na campanha, para ajudar a aumentar a visibilidade - e partilhar responsabilidades, se os resultados eleitorais não forem os esperados pelo partido.

Quanto a João Oliveira, da CDU, declara que “sondagens há muitas” e que não se deixa “embalar” por elas, recusando fazer comparações com os resultados de outros atos eleitorais.

Os valores europeus e o avanço da extrema-direita

Quando se coloca em cima da mesa a hipótese de expulsar países da União Europeia por violarem os princípios europeus, o candidato da Aliança Democrática rejeita tal solução, exceto em “casos-limite”.

Sebastião Bugalho é da opinião que a Europa “não deve dividir-se por dentro”, sobretudo perante a “ameaça” de Putin.

Marta Temido discorda, considera que os mecanismos existem para serem acionados, se for necessário - e leva a discussão para a responsabilização dos decisores europeus, nomeadamente a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que acusa de abrir a porta à extrema-direita dentro da União, admitindo parcerias com essas forças políticas.

“Mostre a notícia”, desafia então Sebastião Bugalho, acusando Temido de “ou se expressar mal ou não perceber” o que estava em casa nas palavras da líder da Comissão Europeia.

A candidata do PS responde acusando a própria Aliança Democrática de incluir partidos antieuropeístas, nomeadamente o Partido Popular Monárquico. Aí, Sebastião Bugalho contrataca, afirmando que “não pode aceitar lições de moral de conivência com a extrema-direita por parte do PS” - e sustenta que os socialistas votaram junto do partido mais à direita na Europa por mais de 800 vezes.

Também João Oliveira, da CDU, acusa a União Europeia de sã convivência com a extrema-direita, ao não pôr em causa “o neoliberalismo nem o militarismo”.

“Nem a União Europeia é uma polícia da democracia, nem a sra. Von der Leyen é uma boa chefe de esquadra”, afirmou, sublinhando que a União Europeia não deve tomar medidas que permitam a líderes políticos como Orbán vitimizarem-se.

O Chega é chamado à discussão, com António Tânger Corrêa a começar por rejeitar que o partido cuja lista encabeça seja de “extrema-direita”. Como se assume, então, o Chega? O candidato responde: “É um partido conservador e não é, de todo, a favor do sr. Putin”.

Questionado se, se assim é, o Chega não deveria estar inserido na família europeia dos conservadores, em vez daquela a que é associado, Tânger Corrêa afirma que essa pode mesmo ser uma possibilidade, depois destas eleições.

“Vai haver uma votação no dia 9 de março. Não é altura para dizermos a que família pertencemos", declarou o candidato do Chega. “Pode haver soluções que as pessoas não sabem que estão em cima da mesa”, continuou, afirmando que, depois de apurado o número de deputados das várias famílias europeias, haverá negociações entre as plataformas políticas.

O envolvimento da UE na guerra

Depois de o chefe do Estado-Maior da Armada, Gouveia e Melo, ter afirmado que Portugal irá “morrer onde tiver de morrer para defender a Europa", Sebastião Bugalho vem contrariar categoricamente tal afirmação.

O candidato da Aliança Democrática afirma que, por mais “respeito” que tenha pelo almirante, é a “governantes eleitos” que cabe falar sobre “o futuro dos jovens portugueses” e não ao chefe do Estado-Maior da Armada.

Marta Temido, do PS, é contra o envio de tropas para a guerra na Ucrânia, sublinhando que tal seria “admitir a escalda para uma guerra mundial” - e, por isso, aconselha prudência. Defende o apoio militar, mas nos moldes como tem sido feito até aqui, sem o envio de tropas.

A cabeça de lista socialista considera também que a União Europeia não pode “impor a paz”. “Tem de ser a Ucrânia a dizer quais são as suas condições”, sustenta.

António Tânger Corrêa, cabeça de lista do Chega, põe as coisas noutros termos e diz que a “destruição” das forças armadas portuguesas, ao longo dos últimos anos, nem permite colocar tal hipótese.

“Não temos ninguém para mandar para lado nenhum", atira.

Apesar de rejeitar ser “belicista”, o candidato do Chega volta a defender parcerias público-privadas para apostar na indústria da defesa.

Quanto a João Oliveira, sublinhou a posição já conhecida da CDU, “contra o militarismo”.

“Se nos estão a preparar para a guerra, é agora que os povos têm de se levantar exigindo o contrário. Esse caminho não serve ninguém”, defende, sublinhando, que “não se trabalha para a paz enviando armas”.

“A paz que vocês querem é a vitória da Rússia”, atira-lhe Sebastião Bugalho, a quem João Oliveira responde com acusações de ”terrorismo verbal”.

O candidato comunista termina o tópico propondo que se “acompanhe as propostas do papa” e que a União Europeia seja “intermediária” de uma solução de paz - tanto na Ucrânia, como na Palestina.

Quais as prioridades de intervenção?

Sebastião Bugalho, cabeça de lista da Aliança Democrática, admite “particular afeição” pelos assuntos externos e pelos assuntos constitucionais. Quanto ao pacto para as migrações, o candidato não o recusa, mas quer alterá-lo (manifestando-se contra a possibilidade de países ricos pagarem infinitamente para não receberem migrantes).

Marta Temido, candidata do PS, que dedicar-se “à área em que for mais útil”, elegendo como tal os “assuntos sociais”, mais particularmente “habitação e jovens”. Nestes temas, acusa o cabeça de lista da Aliança Democrática de propor soluções “que já existem”.

Sebastião Bugalho responde lembrando que pretende colocar a habitação na carta de direitos fundamentais.

“E para que é que isso serve? O que é que isso resolve?”, atira de volta Marta Temido.

João Oliveira, cabeça de lista da CDU, diz que a discussão entre PS e AD é “estéril”, porque “quando lá chegam votam sempre da mesma maneira” – e aponta que Bugalho devia assumir o percurso da força política em que se insere

Foca-se nas questões do emprego e direitos sociais – propondo um pacto pelo progresso social, para assegurar pleno emprego, e a garantia de direitos iguais para os cidadãos migrantes (além de voltar a falar na saída do euro).

Por fim, António Tânger Corrêa, candidato do Chega, elege como prioridades a luta anticorrupção, a agricultura e as pescas (propondo uma reformulação da Política Agrícola Comum), além da imigração (declarando-se contra o pacto migratório, que acusa de atacar a soberania dos países).

Para Tânger Corrêa, a Europa é um espaço inclusivo, mas “tem de ser solidária com os seus, em primeiro lugar”.

Ainda assim, o cabeça de lista do Chega rejeita que o partido tenha um discurso “contra os imigrantes” - com João Oliveira, da CDU, a comentar que “há limites para a incoerência”.

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