Os candidatos da CDU, do PAN, do Chega e da Iniciativa Liberal às eleições europeias estiveram, esta noite, em debate, na SIC. Desta vez, a discussão foi tudo menos morna, com João Oliveira e João Cotrim de Figueiredo em confronto aceso, quando a guerra na Ucrânia foi tema (“Mentiroso!” - ouviu-se mesmo na sala). E se os candidatos comunista e liberal dominaram a discussão, foi o cabeça de lista do Chega que esteve no centro das atenções, quando a desinformação e as “fake news” estiveram em cima da mesa.
O crescimento económico da Europa
João Cotrim de Figueiredo, cabeça de lista da Iniciativa Liberal, abriu o debate, afirmando que a Europa está a ficar para trás, em termos económicos, considerando que esta tem tido dificuldade “em manter os olhos na bola”.
“Deixámos de ter a paz assegurada, deixámos de ter liberdades suficientemente defendidas, e deixámos de ser prósperos”, afirmou.
Defendendo que o mercado único de bens e serviços não está concluído e que há demasiadas diretivas que “não estão a ser bem transpostas ou executadas”, Cotrim de Figueiredo alertou ainda para a “fuga de cérebros europeus”, necessários para levar a cabo a transição digital e energética.
Por sua vez, António Tânger Corrêa, candidato do Chega, afirmou que os europeus foram “naïf” e que a Europa “começou a ser menos competitiva”.
Lembrou que a “relocalização das indústrias tendo em vista procurar mão de obra mais barata” acabou por resultar numa transferência tecnológica para países como China, Vietname e Filipinas. Ainda assim, o cabeça de lista do Chega recusa que os Estados-membros transfiram mais competências para Bruxelas, apesar de recusar o rótulo de “antieuropeísta”, que o candidato do PAN, lhe atribuiu.
Pela CDU, João Oliveira notou que há grandes disparidades entre os Estados-membros, apontando a desindustrialização como uma das maiores dificuldades criadas a Portugal, e defendendo que é preciso aproveitar as capacidades do país para produzir.
Sobre a ideia de que a única forma de a Europa competir com os EUA é garantindo ganhos de escala - algo que, frisa João Oliveira, tem de ser feito com fundos do orçamento da União Europeia -, o candidato comunista questiona se isso contribui para mais coesão económica e social ou se só a prejudica. Mesmo o Pacto de Estabilidade está, para João Oliveira, “transformado em pacto de austeridade”, constituindo um “instrumento de condicionamento”.
Pedro Fidalgo Marques, do PAN, trouxe para cima da mesa as questões ambientais, afirmando que, por ano, são investidos 300 mil milhões de euros em subsídios “para os combustíveis fósseis” - dinheiro que o PAN preferia ver direcionado para a transição climática e energética.
Sobre a viabilidade do projeto, o cabeça de lista do PAN afirmou que o investimento nas energias renováveis permitirá a criação de mais de 1 milhão de postos de trabalho e que cada euro investido terá dois euros de retorno.
O combate às “fake news” e à desinformação
Sobre a liberdade de expressão, o cabeça de lista do Chega defendeu que “não pode ter limites”. Questionado se o partido pisa o risco nesta matéria, Tânger Corrêa rejeiou a a ideia, defendendo que se “tudo o que o Chega diz é visto como mau”, isso ”é que é um discurso de ódio”.
“Agendas woke e outro tipo de radicalismos são nocivos à evolução da democracia. As minorias estão a tomar conta do discurso político e isso não podemos aceitar. Não é intolerância”, afirmou António Tânger Corrêa.
De ‘armas’ apontadas ao Chega, Pedro Fidalgo Marques acusou a extrema-direita de ser responsável por muita da desinformação que circula atualmente.
“Tem de haver uma linha vermelha no discurso de ódio, o discurso de ódio mata. Podemos retroceder em direitos”, declarou.
O mesmo defendeu João Oliveira, que considera que se combate a desinformação com o aprofundamento da democracia. “O contrário de tudo o que disse Tânger Corrêa”, atirou o candidato comunista, acusando mesmo o Chega de falar em “liberdade de expressão”, quando “procura é condicioná-la, e usá-la para ofender os outros, com expressões racistas e xenófobas”.
Para o cabeça de lista da CDU, o problema de fundo é a capacitação dos cidadãos para serem críticos e analisarem o mundo que os rodeia. Para isso, defende o candidato comunista, deve-se apostar no acesso à educação e à cultura para todos. “É aí que temos de pôr as fichas todas, não é em mecanismos de censura”, sublinhou.
No que toca à desinformação, o cabeça de lista liberal considera que não pode haver um “Ministério da Verdade”, em que alguns decidem o que pode ser dito ou não. “É muito tentador porque o problema existe, particularmente em tempos eleitorais, mas pode criar-se um problema ainda maior”, alertou.
Cotrim de Figueiredo afirma que os “desinformadores” criam um “engodo", com o objetivo de fazer com que a democracia perca a identidade. Mas isso, sublinha, deve ser combatido, por exemplo, através de ”fact-checking" e da “tecnologia”, não só a nível civil, mas também militar. Para o candidato, a cibersegurança deve mesmo ser o quarto ramo das forças armadas.
A guerra na Ucrânia
O conflito em solo ucraniano aqueceu o debate, com Pedro Fidalgo Marques a afirmar ser “o adulto responsável na sala”, em oposição à CDU que, acusou de ficar "presa no passado”.
“Mesmo um partido como o PAN, que tem o princípio de não-violência, temos de ser pragmáticos e objetivos: temos uma guerra na Europa”, declarou.
Apesar de ser membro do Identidade e Democracia (ID), família política da qual fazem parte “alguns partidos com ligação à Rússia”, Tânger Corrêa garante que o Chega defenderá a Ucrânia na Europa.
“Podem contar com o Chega para defender a Ucrânia”, declarou.
O candidato comunista, porém, considera que o mundo “já gasta demasiado dinheiro em armas”. João Oliveira mostrou-se contra a “corrida ao armamento” como estratégia de defesa. “É acentuar os perigos da guerra, e é preciso pôr fim à guerra."
Para o cabeça de lista da CDU, as forças armadas devem ter recursos para cumprir a sua missão, “não é para ir morrer em nome das guerras da NATO” - apontando que “os ucranianos estão a ser usados como carne para canhão”.
João Cotrim de Figueiredo, candidato da IL, interrompeu para dizer que, “enquanto houver Putins e pessoas que os defendam”, é preciso investir em defesa. “Se queres a paz, prepara-te para a guerra", frisou Cotrim de Figueiredo, acusando João Oliveira de ter uma “posição lírica”.
“A História está cheia de apaziguamentos que correram mal”, declarou o liberal.
Para João Cotrim de Figueiredo, “enquanto houver tiranos e tiranetes sanguinários”, o mundo democrático e livre “tem a obrigação de se defender”. O candidato liberal sugeriu, no entanto, que o PCP pretende o oposto, por “amizade a Putin”.
“Mentiroso”, atirou João Oliveira ao cabeça de lista da IL, com o tom do debate a subir.
Questionado sobre os perigos de uma vitória russa na guerra com a Ucrânia, o candidato da CDU afirmou acreditar tanto nos planos da Rússia para controlar a Europa "como nas armas de destruição maciça no Iraque". “É propaganda de guerra”, declarou.