O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e representante especial da União Europeia para o Sahel alertou, na Grande Edição da SIC Notícias, que com o regresso de Donald Trump à Casa Branca, a Europa pode ter perdido um "aliado fiável".
“Deixamos de ter em Washington um aliado fiável. Podemos até ter um aliado pontual, mas não é fiável nem estratégico para a Europa”, afirmou.
Em relação à guerra na Ucrânia, o ex-ministro defendeu o direito dos ucranianos à autodefesa, conforme estipulado no artigo 51 da Carta das Nações Unidas.
“A Ucrânia tem o direito de se defender, e isso inclui atacar alvos militares que representem ameaça ao seu território, dentro da Rússia”, explicou.
Sobre a recente decisão de Joe Biden autorizar Ucrânia a usar armas de longo alcance dos EUA contra a Rússia, João Gomes Cravinho acredita que a medida chegou "muito tardiamente", mas foi tomada com o intuito de evitar uma posição desfavorável para os ucranianos em futuras negociações com a Rússia.
“Creio que Biden só tomou essa decisão agora, porque se vislumbra no primeiro semestre de 2025 algum tipo de negociação com a Rússia. Ele provavelmente pensou que, se a Ucrânia entrasse nas negociações com uma posição muito fragilizada, o juízo da história podia ser muito negativo para ele”, afirmou.
Cessar-fogo na Ucrânia? Putin estará disponível para discutir com Trump... mas tem condições
O lançamento de um míssil intercontinental pela Rússia, com alcance de 16 mil quilómetros, marcou as últimas horas da guerra na Ucrânia. Segundo o ex-ministro, isto reflete a natureza "fria e calculista" de Putin, que sempre pondera cuidadosamente as suas decisões.
“O que Putin fez hoje foi uma demonstração prática da sua capacidade nuclear. Foi uma tradução em atos concretos a retórica que tem mantido ao longo do tempo. Foi uma tradução em termos práticos daquilo que tem vindo a ser a sua retórica ao longo dos tempos. é também de algum modo, mais uma escalada por parte de de Putin", constatou Cravinho.
Os cargos na Administração Trump
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros recordou ainda as expectativas iniciais quando Donald Trump foi eleito pela primeira vez, de que seria uma figura política diferente, rodeado por "pessoas sérias" que o condicionariam e o ajudariam. Algo que, atualmente, já se sabe que não aconteceu, nem vai acontecer.
“Trump faz aquilo que diz que faz e as nomeações não nos devem surpreender. São nomeações, na grande maioria, de pessoas absolutamente desqualificadas para os cargos para os quais são indicados. Mas todas têm uma característica em comum, que é a lealdade absoluta", sublinhou.
João Gomes Cravinho alertou que se está "perante uma aceleração muito rápida da história" e uma "transformação da realidade política americana com consequências".