Eleições nos EUA

100 dias de Biden na Casa Branca. O que separa o novo Presidente dos EUA do antecesssor

Cumpre 100 dias de mandato na Casa Branca na quinta-feira.

Tom Brenner

Lusa

Joe Biden cumpre 100 dias de mandato na Casa Branca, na quinta-feira, e é fácil detetar as diferenças com o seu antecessor na presidência dos Estados Unodis, Donald Trump, na agenda política interna e externa.

No final de março, na sua primeira conferência de imprensa como Presidente dos EUA, Joe Biden repetiu uma frase que parecia querer captar a estratégia política para o seu mandato e a sua principal mensagem aos jornalistas:

"Eu quero mudar o paradigma", disse o Presidente democrata por três vezes, referindo-se à sua agenda e à forma como a pretendia negociar com os republicanos.

Sinal de diálogo interpartidário

No seu discurso de tomada de posse, Joe Biden deixara um sinal de diálogo interpartidário, reconhecendo que com uma frágil maioria na Câmara de Representantes e com um Senado dividido literalmente a meio (50-50), a Casa Branca não podia hostilizar os republicanos.

O primeiro desses sinais de diálogo foi a sua declaração de que não insistiria num processo político ou judicial contra o seu antecessor, Donald Trump, envolvido num processo de destituição no Congresso, por "incitação a insurreição", mesmo já depois de ter abandonado o lugar de Presidente.

Contudo, não demorou muito a partir a corda com o Partido Republicano, quando Biden insistiu no seu plano fiscal, com um substancial aumento de impostos para os mais ricos e para a classe média alta, ou quando declarou o fim da construção do muro na fronteira com o México, rompendo com as anteriores medidas de controlo de fronteiras.

Romper com mensagens ambíguas de Trump e desmontar alguns pilares

Ao colocar a luta contra a pandemia de covid-19 como a prioridade imediata da sua agenda, o novo Presidente deu também um sinal claro de que iria romper com as mensagens ambíguas de Trump sobre medidas de confinamento, estabelecendo o uso obrigatório de máscaras de proteção individual e anunciando um ambicioso projeto de vacinação para os primeiros 100 dias de mandato.

Biden mostrou também pressa em desmontar alguns dos pilares da política externa: anunciou o regresso dos Estados Unidos ao acordo climático de Paris e parou o processo de afastamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) -- duas organizações internacionais com quem Donald Trump tinha entrado em rota de colisão.

Negociações e decisões de Tump

Mas, também rapidamente, Biden percebeu a força política dos republicanos, sendo obrigado a difíceis negociações e soluções de compromisso no Congresso para tentar aprovar um pacote de ajuda financeira, de quase dois biliões de euros, para combater a crise económica decorrente da crise sanitária.

Apesar das pressões no seu próprio partido para não fazer cedências - nomeadamente por parte da comissão de orçamento do Senado, liderada pelo radical Bernie Sanders - o Presidente fez diversas modificações no documento inicial, incluindo no referente à distribuição de verbas pelos governos estaduais, tornando-o mais próximo dos pacotes de apoio que tinham sido apresentados por Trump.

Também a nível externo, Biden manteve algumas das decisões do seu antecessor, revelando que a "mudança de paradigma" não se estendia à totalidade da agenda política, mas antes deveria ser um ponto de equilíbrio entre o que se muda e o que se altera.

No Afeganistão, Biden manteve a promessa feita por Trump de retirada do efetivo militar norte-americano, ainda durante o ano de 2021, embora com algum atraso relativamente ao plano anterior.

China como principal "adversário comercial" e "inimigo militar"

Ainda em matéria de política externa, e mantendo promessas eleitorais, Biden reforçou a posição de força perante Pequim, colocando a China como o principal "adversário comercial" e mesmo "inimigo militar".

O recente envio de navios de guerra para o mar da China setentrional e a resistência a abrir mão de algumas das taxas alfandegárias sobre produtos chineses prova que a Casa Branca de Biden não se afastou muito, nesta matéria, da estratégia de Trump, apenas tendo suavizado a linguagem diplomática.

Preservar antigos compromissos de parcerias

Um ponto de substancial diferença com o anterior Presidente, republicano, foi a relação com os aliados, bem sublinhada pela pronta visita do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, à sede da NATO, onde se apressou a confirmar a intenção de preservar antigos compromissos de parcerias.

Relevante é igualmente o facto de a primeira viagem oficial de Joe Biden ser ao Reino Unido e à Bélgica, em junho próximo, num sinal evidente de aproximação aos aliados que Trump manteve ao largo.

Recentemente, os Estados Unidos anunciaram também que iriam reforçar o efetivo militar na Alemanha, numa mensagem de confiança aos aliados europeus, mas também de desafio a outro dos "inimigos": a Rússia.

Aliás, Biden quebrou mesmo a sua imagem de estadista de expressões moderadas, quando, numa entrevista televisiva, respondeu positivamente a uma pergunta sobre se o Presidente russo, Vladimir Putin, era um "assassino", desfazendo ambiguidades de relações que vinham da era de Trump.

Reverteu várias políticas emblemáticas de Trump

Internamente, Biden reverteu várias políticas emblemáticas do seu antecessor, como o plano de construção do muro de fronteira com o México, preferindo uma política de imigração articulada com os países da América Central.

Com a pressão de entrada de imigrantes e refugiados a aumentar, Biden tem-se centrado em reverter algumas das medidas de Trump mais polémicas, como a separação de crianças das suas famílias, embora continue a ser criticado por não conseguir resolver totalmente o problema da imigração ilegal.

Também ao nível da legislação sobre uso e porte de armas, Biden está a tentar introduzir profundas alterações e a passar uma mensagem política de que tudo fará para evitar tragédias com tiroteios, mas os especialistas não estão seguros de o Presidente consiga alguma diferença substancial.

Emblemática foi a suspensão da Comissão 1776, um grupo de 18 académicos, maioritariamente conservadores, que estava a preparar uma reforma dos manuais escolares, no sentido de uma "educação patriótica".

Após vários casos polémicos de nomeações e demissões de funcionários públicos no mandato de Donald Trump, Joe Biden instituiu um código de honra entre os membros do Governo, que os impede de agir em seu interesse pessoal, e procurou reforçar a independência do Departamento de Justiça.

Até a decoração da sala oval foi alterada, com a chegada do novo inquilino à Casa Branca: Biden mandou retirar um quadro de Andrew Jackson, Presidente que ficou conhecido por assinar um tratado que obrigou os índios nativos a serem realocados, e colocar um quadro de Benjamin Franklin, uma das figuras mais populares da história dos Estados Unidos.

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