Eleições Legislativas

Carta a um jovem que pode votar pela primeira vez

Opinião de Cristina Figueiredo, editora de Política

Não me lembro da primeira vez que votei. Já votei tantas desde então que essa memória se perdeu. Mas lembro-me do desgosto que senti por não ter idade para votar nas disputadíssimas presidenciais de 1986 – só fazia 18 anos em agosto e as eleições eram em janeiro.

“Desgosto por não poder votar” é provavelmente uma ideia bizarra, que te faz sorrir. Mas a jornalista tem idade para ser tua mãe, é natural que escreva coisas que, à primeira vista, te parecem fazer pouco sentido.

Se tiveres paciência, lê até ao fim. Talvez percebas melhor o que te estou a procurar dizer.

Não sei se és daqueles que diz que “não gosta de política” ou, noutra versão, que “não percebe nada de política”. Tenho uma novidade para ti: percebes mais do que julgas, gostas mais do que pensas. Provavelmente sabes o nome do Presidente da República e do primeiro-ministro, se puxares um bocadinho pela cabeça és capaz de identificar os líderes dos principais partidos, mesmo que não saibas o que significam as siglas PAN ou BE.

Já terás ouvido histórias ao teu avô de “como eram as coisas antes do 25 de abril”, já te terás perguntado (mesmo que não tenhas ido à procura da resposta) “afinal, o que fez o Salazar de tão mau?”, já perdeste a conta às vezes que ouviste os teus pais, os teus tios, os teus vizinhos, afirmarem que os políticos “são todos iguais” e que “este país nunca há-de sair da cepa torta”. E até te sentes inclinado a concordar com eles, ainda que não percas muito tempo a pensar no assunto e encolhas os ombros porque, afinal, não tem nada a ver contigo.

Ora aí é que está: é que tem tudo a ver contigo. E é por isso que te escrevo. Dia 30 de janeiro vais ter a inesperada possibilidade (inesperada porque, não fosse as eleições terem sido antecipadas pelo Presidente da República, só votarias pela primeira vez em outubro de 2023) de ajudar a escolher o caminho por onde passa o teu futuro. Por que é exatamente disso que tratam as eleições, quaisquer eleições. E cada voto, mesmo que te pareça que não, faz a diferença.

Dir-me-ás que o futuro é um lugar distante, mas garanto-te que está bem mais perto do que julgas. Argumentarás que não fazes ideia em quem votar. Ora, sabes muito melhor do que eu que quem tem dados móveis tem tudo: o que não falta na net é informação sobre os partidos e as propostas de cada um; pela primeira vez na história recente da democracia tens dois e três debates televisivos todos os dias, são nada menos do que nove (nunca foram tantos!) os protagonistas políticos.

Talvez nem todos falem uma linguagem que tu compreendas e com que te identificas, mas se não és tu, com o teu voto, a fazer-lhes ver isso mesmo, como é que eles o vão corrigir?

Vá, deixa-te de coisas. Tens uma palavra a dizer, uma cruz para desenhar no boletim de voto. Não me dês esse desgosto de poderes e, no entanto, não ires votar.

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