O primeiro-ministro multiplica explicações sobre a polémica com a empresa familiar, garantindo que nunca recebeu um cêntimo de grupos privados desde que foi eleito presidente do PSD e dizendo estar em exclusividade como chefe do Governo.
Entretanto, o Grupo Solverde cessou, na tarde desta quarta-feira, o contrato de prestação de serviços com a empresa da família de Luís Montenegro.
No Parlamento, a oposição acusou o primeiro-ministro de ter faltado a uma reunião em Kiev para assinalar os três anos de guerra. Nesse dia, Montenegro estava a jogar golfe com o amigo e dono da Solverde.
Foi preciso hora e meia de debate para o primeiro-ministro falar sobre o elefante na sala.
"Não acumulei coisa nenhuma. Eu não recebi um cêntimo sequer, um cêntimo sequer de ninguém e não desde que sou PM. É desde que fui eleito presidente do PSD. Eu não sou nem fui avençado de ninguém neste período. Não houve nenhuma acumulação, eu nunca violei o meu dever de estar em exclusividade", afirmou o chefe do Governo.
Recusa ter recebido indiretamente avenças de empresas privadas através da Spinumviva, que, a partir desta quarta-feira, já está nas mãos dos filhos.
Em comunicado enviado às redações, Hugo e Diogo Montenegro passam a ser os únicos sócios da empresa. A sede passa para o Porto.
"A empresa já anunciou, vi aqui antes de entrar para o debate, que prescinde, por razões de exposição pública, e só por essa, da continuação da prestação desse serviço. Essa empresa é a Solverde", justificou.
No segundo comunicado do dia, o Grupo Solverde decidiu rasgar o contrato com a Spinumviva, no qual pagava 4.500 euros por mês, para salvaguardar o "bom nome e a reputação do grupo", dono de hotéis e casinos. Acrescenta, ainda, que os "ataques" dos últimos dias "têm colocado em causa a integridade e o prestígio" da empresa.
Apesar de garantir que saiu da empresa familiar, Montenegro não consegue resistir.
"Não quero estar a intrometer-me porque nunca o fiz, nunca o fiz desde que saí da empresa no dia 30 de junho de 2022. Eu quero fazer aqui uma aposta firme, quase que até me apetece dizer aos responsáveis que tornem público quando arranjarem um substituto ou substituta dos serviços que vão ser prestados. Tenho a certeza quase absoluta que o valor desses serviços vai ser superior àquele que pagaram durante este período", atirou.
Montenegro - o advogado - negociou também a prorrogação da concessão dos casinos com o anterior Governo durante a pandemia. Termina no final deste ano. O grupo processou o Estado e exigiu uma indemnização pelas perdas durante a pandemia. O primeiro-ministro diz que o Governo contestou e ganhou.
No dia 24 de fevereiro, Montenegro jogava golfe com o amigo e dono do Grupo Solverde, como revelam as fotografias partilhadas pelo Clube de Economistas, dois dias depois da primeira moção de censura.
A ligação ao amigo Manuel Violas é antiga. Em 2022, Montenegro escolheu o Hotel Solverde, em Espinho, para passar a noite eleitoral nas eleições diretas do PSD que o elegeram como líder dos sociais-democratas.