O mercado de Huanan na cidade chinesa de Wuhan é o local mais provável da propagação do coronavírus SARS-CoV-2 que causa a doença covid-19. Esta é a evidência mais sólida que foi confirmada por dois estudos recentes.
A possibilidade de o contágio ter começado nesse mercado foi considerada logo em 2019, altura em que um novo agente infecioso causador de pneumonias foi identificado pelas autoridades chinesas. O mercado foi dos primeiros locais no mundo a serem encerrados devido à covid-19.
Mas à medida que o vírus atingiu vários países, as teorias quanto à origem do surto multiplicaram-se. Foi sugerido que o vírus já circulava na Europa antes de ter sido reportado no final de 2019, o que alimentou inúmeras teorias da conspiração. Também, que o vírus foi fabricado em laboratório. Nesta linha de argumentação, tanto foi dito que a fuga resultou dum acidente como duma decisão propositada com fins económicos e geopolíticos.
Esta especulação é alimentada pela desconfiança em relação às autoridades chinesas. Sim, há uma desconfiança latente e intrínseca do mundo ocidental em relação a outros quadrantes, ásia e áfrica incluídos, e essa desconfiança é cultural, científica, política, étnica e religiosa.
Em sentido inverso, as autoridades chinesas também demonstram desconfiança em relação à Organização Mundial da Saúde (OMS), muito por conta da geopolítica internacional e da ideia de que estas agências estão a mando dos interesses ocidentais. A complexidade desse assunto não tem forma de ser analisada aqui e agora.
Isto foi claro nos relatórios elaborados pela equipa de cientistas enviada pela OMS à China para descobrir a origem do vírus e como se propagou. Foi dito que apesar da colaboração, as autoridades chinesas não partilharam toda a informação técnica que foi solicitada e que isso não permitiu conhecer todas as peças do puzzle.
Há alguns meses que se sabia com relativa certeza – aquela que é possível em ciência – que a covid-19 é uma zoonose (transmissão animal-humano) com origem provável em morcegos, cujo vírus original foi identificado em 2013 na China e em 2020 no Laos. O local e o animal que mediou a transmissão para os humanos ficou em aberto.
Respostas quanto ao local foram dadas pelos dois estudos recentes:
- as duas linhagens iniciais do SARS-CoV-2 nos humanos tiveram início na área circundante ao mercado de Huanan;
- o contágio inicial do SARS-CoV-2 está associado a trabalhadores do mercado, a clientes e à população residente nas áreas circundantes;
- no interior do mercado encontrou-se um epicentro localizado em torno da venda de certos mamíferos.
Ora, isso leva à pergunta sobre qual o animal que mediou a transmissão dos morcegos para os humanos. A resposta continua a não ser clara, embora algumas pistas ajudem a completar o raciocínio.
Sabe-se que em Wuhan quatro mercados incluindo o mercado de Huanan vendem espécies de mamíferos vivos, selvagens ou criados em cativeiro, que podem transmitir o SARS-CoV-2. Contam-se as raposas vermelhas, os texugos e os guaxinins. Além disso, sabe-se que no mercado de Huanan em concreto alguns destes mamíferos eram comercializados na altura em que a infeção nos humanos foi identificada. Pouco mais é possível dizer na ausência de testes laboratoriais a estes animais.