Coronavírus

Ómicron: o ponto (possível) da situação

A ómicron trouxe uma fase de nova incerteza na gestão da pandemia. E esta incerteza deriva de dois fatores.

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Tiago Correia

O primeiro é a necessidade de tempo – pensa-se que não muito – para obter respostas laboratoriais, das quais ganha destaque a maior ou menor gravidade da doença associada a esta variante. O segundo é o modo como a ómicron se vai comportar no mundo real. Infelizmente, este fator requererá mais tempo para se perceber. Isto porque as características sociais, demográficas, de hábitos e estilos de vida e os contextos das populações condicionam muito a manifestação das doenças. No caso da Covid-19 acrescem estados e planos vacinais distintos que aumentam a incerteza.

Os dados conhecidos até ao momento apontam para que a ómicron seja de mais rápida transmissão e que diminua a imunidade, quer natural (mais casos de reinfeção) quer induzida pelas vacinas. Ao mesmo tempo, argumenta-se que origine quadros clínicos menos graves, contudo sem ser claro o impacto nos óbitos e se o motivo é a sua menor patogenicidade ou se porque a sua prevalência ocorre em populações já vacinadas e/ou expostas à infeção por outras variantes. Por último, que o reforço da vacinação parece repor níveis de proteção semelhantes àqueles registados para a variante delta.

A demonstração disto é que países com características distintas do ponto de vista social, etário, económico, de escala e de cobertura vacinal estejam a lidar com ritmos de transmissão superiores em relação ao que aconteceu no passado. A grande dúvida é qual o ritmo de evolução da doença. Como expus, sobre isso não há mesmo forma de antecipar. O reforço da vacinação é o grande ponto de interrogação.

As implicações na gestão política da pandemia são diversas e profundas. Primeiro, ter a expectativa de uma onda de contágios sem saber de antemão se alguma medida não farmacológica – além de confinamentos gerais – é suficiente para conter a transmissão. Segundo, ter a noção da dificuldade de impor novas medidas de prevenção, por causa da circunstância das quadras festivas, mas também pelo facto de ao longo do tempo várias expectativas terem sido defraudadas (por exemplo, a promessa de imunidade de grupo através da vacinação) e inconsistências de comunicação. Porventura, a maior de todas as causas será o custo político de novas medidas não farmacológicas, a que as eleições de 30 de janeiro não são alheias. Terceiro, ter que lidar com uma vaga sem precedentes de casos de isolamento e quarentena. Torna-se difícil pensar o regular funcionamento dos cuidados de saúde, das escolas e dos demais setores de atividade perante a enormidade de contactos com pessoas que testaram positivo, mais ainda acontecendo vezes sem conta.

Assim, este é o tempo de refletir outra vez sobre a gestão dos contactos de risco (a duração e os casos de quarentena), assim como planear planos de contingência dos trabalhadores, de rotatividade e organização das equipas, mas também do acesso e disponibilidade da telescola e do funcionamento articulado entre o SNS e os prestadores privados.

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