Especialistas de várias áreas da saúde e políticos voltaram, esta sexta-feira, a reunir-se para avaliar a evolução da pandemia da covid-19, numa altura em que se regista um aumento de infeções em Portugal.
"Portugal encontra-se na quinta fase pandémica"
Portugal encontra-se na quinta fase da pandemia de covid-19 e apresenta uma incidência de infeções de 203 casos por 100 mil habitantes, sendo mais elevada na população jovem.
"Tivemos quatro grandes fases pandémicas e Portugal encontra-se, de momento, na quinta fase pandémica, até ao momento com um impacto na gravidade e na mortalidade inferiores às fases anteriores, ainda que mereçam alguma atenção especial", adiantou Pedro Pinto Leite, da DGS.
Segundo disse, a incidência atual é de 203 casos de infeção por SARS-CoV-2 nos últimos 14 dias por 100 mil habitantes, com uma tendência crescente e uma variação de mais 47% em relação ao período homologo.
De acordo com o especialista, a região com maior incidência de infeções é o Algarve, seguida do Centro e da Madeira, estando estas três regiões acima dos 240 casos por 100 mil habitantes.
Grupo de peritos defende uso de máscara e teletrabalho
O grupo de peritos de aconselhamento do Governo propôs medidas gerais para controlar a pandemia, entre as quais o uso de máscara em ambientes fechados e eventos públicos, e medidas setoriais, como o teletrabalho sempre que possível.
"O que nós propomos é que a estratégia adaptada à circunstância atual continue a assentar em cinco eixos fundamentais: a vacinação, a renovação do ar interior, a distância, a máscara e a testagem", afirmou Raquel Duarte, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
A especialista em saúde pública salientou que o conjunto de medidas hoje proposto "deve ser aplicado a par de um processo célere de reforço com a terceira dose da vacinação".
Nesse sentido, como medida geral a aplicar em todos os contextos os peritos propõem a adequação da climatização e ventilação dos espaços interiores, a utilização do certificado digital com teste recente nos espaços públicos, a autoavaliação de risco, a promoção de atividades no exterior ou por via remota sempre que possível, o cumprimento do distanciamento físico e a utilização obrigatória de máscara em ambientes fechados e eventos públicos.
Especificamente no contexto laboral, deve ser adotado, sempre que possível, o desfasamento de horários e o teletrabalho, no "sentido de facilitar o cumprimento das medidas gerais", adiantou Raquel Duarte.
Para o comércio - incluindo centros comerciais -, restauração, hotelaria e alojamento, assim como para as atividades desportivas, os peritos propõem as medidas gerais apresentadas.
Para eventos de grande dimensão, nos casos em que não for possível o seu controlo, através do cumprimento das medidas gerais, não devem ser realizados, tanto no exterior, como no interior.
No que se refere à circulação nos espaços públicos, deve ser mantida da distância e a autoavaliação de risco com a utilização da máscara, "perante a perceção que existe risco, nomeadamente quando há concentração de pessoas", avançou a especialista em saúde pública.
Nos convívios familiares alargados, os especialistas avançam com a necessidade de cumprimento das medidas gerais, da autoavaliação do risco e a aplicação de autotestes de despiste do vírus.
Nos lares de idosos "deve haver cuidados particulares", salientou Raquel Duarte, propondo a identificação do risco de acordo com o grupo etário, as comorbilidades e o estado vacinal, a testagem regular para funcionários e visitas e a promoção de medidas de controlo de infeção.
Nos transportes públicos, além de sistemas de ventilação adequados, é proposto o distanciamento sempre que possível e utilização obrigatória de máscara.
Vacinação evitou 200 mil casos desde maio
O resultado do processo nacional de vacinação contra a covid-19, que atingiu perto de 87% de cobertura da população, terá evitado a morte de quase duas mil pessoas desde maio até agora, defendeu Henrique Barros.
"Desde maio até agora, a adesão dos portugueses à vacina terá poupado à volta de 200 mil infeções, menos 135 mil dias em enfermaria, menos 55 mil dias em unidades de cuidados intensivos e pouparam-se cerca de duas mil vidas", afirmou o epidemiologista.
"O grupo etário das pessoas com mais de 80 anos, que era um dos mais afetados, é agora completamente ultrapassado pelo grupo dos 5 aos 10 anos, em que ainda não utilizamos a vacinação", frisou, notando que "a situação portuguesa na hierarquização dos casos e das mortes encontra-se muito melhor do que há um ano, comparativamente com os outros e consigo próprio".
Apesar dessa evolução, o especialista aconselhou que, perante a situação epidemiológica neste momento, "poderia fazer sentido desaconselhar as reuniões com muitas pessoas, as chamada reuniões sociais com mais de 50 pessoas", tendo em conta o panorama de infeções que se tem registado nas últimas semanas.
"A vacinação das crianças é uma prioridade"
Henrique Barros aconselhou ainda a vacinação das crianças assim que possível.
"A vacinação das crianças é uma prioridade, como é uma prioridade reforçar a vacinação das pessoas à medida que o tempo vai passando", sublinhou.
Vacinas com eficácia superior a 80% na prevenção de hospitalizações e mortes
As vacinas contra a covid-19 utilizadas em Portugal apresentam uma eficácia superior a 80% na prevenção de hospitalização e de morte e superior a 53% contra a infeção pelo SARS-CoV-2, adiantou uma especialista do INSA.
Em relação às formas graves de doença, as "efetividades [das vacinas] são bastante elevadas, superior a 80% de uma forma geral, sendo mais baixas quando olhamos para população acima dos 80 anos", referiu Ausenda Machado, na reunião sobre a situação epidemiológica em Portugal na sede do Infarmed, em Lisboa.
Segundo a especialista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), contra a infeção pelo coronavírus, as quatro vacinas utilizadas no plano de vacinação nacional permitem uma proteção acima dos 50% para os vários grupos etários.
"Os resultados da efetividade indicam-nos que as vacinas são efetivas na redução da doença, mas em particular quando olhamos para doença grave ou muito grave", adiantou Ausenda Machado.
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