Rebekah Jones trabalhava no departamento de Saúde do estado da Florida, nos EUA, e conta que quando lhe pediram para alterar dados sobre o novo coronavírus, recusou-se e acabou por ser despedida pelo Governador.
Jones alega que foi despedida por se recusar a "alterar manualmente os dados para se conseguir apoio para o plano de reabertura". Porém, um porta-voz de Ron DeSantis, Governador da Florida, negou e insistiu que a cientista foi dispensada por ter um comportamento perturbador e insubordinado.
"Rebekah Jones, durante tempo em que esteve no departamento de Saúde, mostrou-se sempre insubordinada, incluindo quando decidia sozinha modificar o painel Covid-19 do departamento sem a aprovação da equipa epidemiológica ou dos seus superiores. (...) Precisão e transparência são sempre indispensáveis, especialmente durante uma emergência de saúde pública sem precedentes, como a Covid-19. Ter alguém perturbador não pode ser tolerado, o que levou o departamento a decidir que era melhor dispensá-la", disse Helen Aguirre Ferre, porta-voz do Governo da Florida.
A comunidade científica da Florida ficou incomodada com este despedimento, ressalvando que estatísticas precisas e imparciais são fundamentais para o trabalho que estão a desenvolver.
Já os democratas acreditam que o movimento foi conduzido politicamente.
"As alegações de que o Governo da Florida pode ter tentado manipular ou alterar dados para tornar a reabertura mais segura são uma vergonha. (...) Este tipo de ação é perigosa e, francamente, deve ser punida. Uma investigação independente é necessária imediatamente. Enquanto isso, autoridades municipais e estatais da Florida devem monitorizar de perto a situação para proteger a saúde da população", disse Terrie Rizzo, presidente do partido Democrata da Flórida, ao The Guardian em comunicado.
DeSantis é um grande aliado de Donald Trump, e insistiu que a Florida estava no caminho certo para a primeira fase da reabertura, divulgando estatísticas estatais que indicavam que o pico da crise sanitária já tinha passado.
No Twitter, um dos membro do Centro para o Desenvolvimento Global, Jeremy Konyndyk, que liderou a luta contra o Ébola, disse que este despedimento poderia levantar questões sobre os números revelados na Florida nos últimos tempos.
Rebekah Jones é uma cientista de dados, formada em Geografia e Jornalismo. Desde o início da pandemia que começou a construir um "banco de dados", uma recolha feita em duas línguas, que englobava várias informações como mortes, número de casos, testes realizados e pessoas que estavam a ser monitorizadas, por município, código-postal e como residente ou não residente no estado.
"Durante dois meses trabalhei 16 horas por dia sozinha, e a maioria das horas não foram pagas, e depois disto provavelmente nunca serão", disse Jones através de um e-mail enviado ao Florida Today.
De acordo com o Tampa Bay Times, a grande parte da informação que foi pedida a Jones para ser ocultada estaria relacionada com pessoas da Florida com sintomas ainda antes do surto de Covid-19 ser declarado.
Um caso idêntico aconteceu também no estado da Geórgia, quando o governador Brian Kemp, também republicano, divulgou que o número de novos casos do novo coronavírus estava em queda. Acabou por se descobrir que a informação era falsa e Kemp foi obrigado a pedir desculpa.