Conflito Israel-Palestina

Pagar para sair de Gaza: Mahmoud vive no Porto e está a tentar resgatar a família

Muitos palestinianos tentam resgatar as famílias que estão encurraladas na Faixa de Gaza. Recorrem a uma empresa egípcia que cobra milhares de euros para acelerar o processo de emissão de vistos. A SIC conversou com um palestiniano que pagou quase 40 mil euros para salvar a família da guerra.

Maria João Brás

José Caldelas

Diogo Sentieiro

Salvador Reto

Está tudo bem com a família na Faixa de Gaza. Era o que Mahmoud Abujayyab queria ouvir. Vive no Porto desde dezembro, é engenheiro de software e estava a trabalhar na Turquia quando uma empresa de programação o convidou a vir para Portugal.

Regressou a Gaza na altura em que o grupo islâmico Hamas levou a cabo um massacre que matou cerca de 1.200 israelitas. Telavive retaliou e entrou na Faixa de Gaza para acabar com o Hamas. Mahmoud esteve lá nos primeiros dias dos ataques israelitas.

“Quando a minha noiva foi morta, eu estava em Gaza. Foi no oitavo dia da guerra. Estava a falar com ela ao telefone quando, de repente, ouvi uma explosão. A chamada continuou mas a minha noiva deixou de responder”, conta.

Entretanto, voltou a Portugal. A possibilidade de a mãe, os quatro irmãos, os cunhados e os 14 sobrinhos terem o mesmo destino levam-no a angariar fundos na internet para os resgates.

Mas o caso de Mahmoud está longe de ser caso único. 40 mil, 60 mil, há até quem peça mais de 100 mil euros. À SIC, outro palestiniano admite que lhe cobraram quase 40 mil euros.

“Angariei o dinheiro para retirar alguns familiares de Gaza. Um familiar meu foi ao Egito e pagou o dinheiro no escritório da empresa. Pagou em dinheiro vivo, em notas novas, sem riscos ou dobras (exigência da empresa). Passado um mês, os nomes dos meus familiares estavam na lista para sair de Gaza por Rafah”, conta.

O relato é semelhante a outros que se lêem na imprensa internacional. Segundo a Economist, tudo se processa através da agência egípcia, Hala Consulting and Tourism. O The Guardian afirma que a agência cobra entre cinco mil a quase 10 mil euros euros por pessoa. No caso dos menores de 16 anos cobra metade: no mínimo 2.500 euros.

Contas feitas, e se Mahmoud quiser resgatar os 23 familiares encurralados na Faixa de Gaza poderá ter de pagar mais de 100 mil euros.

Mahmoud ainda está longe de conseguir o dinheiro necessário para resgatar a família. Até lá, restam-lhe os telefonemas que garantem que continua a valer a pena tentar.

Últimas