Cimeira do Clima

Eventos climáticos extremos são o "novo normal"

Os sete anos de 2015 a 2021 serão provavelmente os mais quentes alguma vez registados, segundo a ONU.

Noah Berger, John Locher, Jorge Saenz

Catarina Solano de Almeida

Os eventos climáticos extremos - intensas ondas de calor, inundações, furacões cada vez mais fortes, incêndios devastadores - são agora o novo normal, diz a Organização Meteorológica Mundial (OMM). O relatório do Estado do Clima para 2021 destaca que o mundo está "a mudar diante os nossos olhos" e o clima global está a entrar em "território desconhecido".

Este relatório anual sobre o estado do clima “revela que nosso planeta está a transformar-se perante os nossos olhos”, comentou o secretário-geral da ONU, António Guterres, “das profundezas do oceano aos picos das montanhas, sob o efeito inexorável do degelo dos glaciares e fenómenos climáticos extremos, em todo o planeta, ecossistemas e populações do planeta estão a ser prejudicados”.

A Conferência do Clima COP26 sobre as alterações climáticas que começou no domingo em Glasgow, tem de "marcar uma viragem decisiva para a humanidade e também para o planeta", acrescentou Guterres em comunicado.

2015-2021, provavelmente os 7 anos mais quentes alguma vez registados

Os sete anos de 2015 a 2021 serão provavelmente os mais quentes já registados, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Nos primeiros nove meses de 2021, a temperatura média aumentou cerca de +1,09°C em relação à era pré-industrial.

Devido ao impacto do fenómeno La Niña, que baixou as temperaturas no início deste ano, 2021 não vai bater nenhum recorde, mas é "provável" que ainda ocupe entre o 5º e 7º lugares dos anos mais quentes.

No pódio do ano mais quente contrinua a estar 2016.

A subida da temperatura média nos últimos 20 anos (2002-2021), ultrapassa, pela primeira vez, o limiar simbólico de + 1°C.

E o nível do mar subiu para um novo máximo em 2021.

Desde as primeiras medições precisas feitas por satélite no início de 1990, o nível do mar subiu 2,1 mm por ano entre 1993 e 2002.

Mas de 2013 a 2021 o aumento mais do que duplicou para 4,4 mm, principalmente em resultado da perda acelerada de gelo de glaciares e camadas de gelo.

“Os números provisórios mostram que a tendência continua a ser a subida da temperatura. O facto de a média de 20 anos ter ultrapassado +1° C irá impressionar os delegados da COP26 que desejam manter o aumento das temperaturas dentro de limites. do Acordo de Paris", comentou Stephen Belcher, um cientista do Met Office do Reino Unido que participou do relatório.

Com as tendências climáticas atuais, o relatório dos especialistas em clima da ONU (IPCC) alerta para o risco de se alcançar +1,5°C por volta de 2030 e sublinha que os atuais compromissos de redução das emissões de gases com efeito de estufa dos Estados conduzem a um aquecimento "catastrófico" de +2,7ºC, longe do objetivo do Acordo de Paris

Com um aumento de +1ºC, os desastres associados ao clima já acontecem regularmente, como mostra o relatório da OMM. “Os fenómenos climáticos extremos já não são excecionais”, diz o seu presidente Petteri Taalas.

Só em 2021, o mundo experimentou ondas de calor excecionais na América do Norte e no sul da Europa, incêndios devastadores no Canadá e na Sibéria, uma vaga de frio extraordinária no centro dos Estados Unidos, precipitação extrema na China e na Europa Ocidental, uma seca que causou fome em Madagascar.

“As catástrofes continuam a provocar perdas pesadas, vidas humanas e dinheiro, e estão a reverter os ganhos de desenvolvimento conquistados pelos países”, nota o relatório, referindo que apesar de tudo há uma melhor preparação para estes desastres.

Proteção e adaptação das pessoas e locais mais vulneráveis aos impactos das alterações climáticas

Por todo o mundo, milhões de pessoas já vivem em condições climáticas extremas e devastadoras, cada vez mais agravadas pelas alterações climáticas. Mesmo reduzindo as emissões dos gases com efeito de estufa, são inevitáveis mais mudanças.

É preciso uma adaptação aos impactos das a alterações climáticas - e este é um dos temas centrais das discussões da COP26.

"Das profundezas do oceano ao topo das montanhas, do degelo de glaciares a eventos climáticos extremos implacáveis, ecossistemas e comunidades em todo o mundo estão a ser devastados. A COP26 deve ser um ponto de viragem para as pessoas e para o planeta”, exige o secretário-geral da ONU, António Guterres.

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