Na manhã de 26 de abril de 1986, o núcleo do reator 4 da central nuclear de Chernobyl na Ucrânia da era soviética entrou em fusão e explodiu, causando o pior desastre nuclear da História.
Os números oficiais de mortos continuam a ser 31 - aqueles que morreram naquela noite, dois funcionários da central e bombeiros. Mas a nuvem radioativa que se espalhou foi contaminando uma grande parte da Europa de leste e central, tendo a Ucrânia, a Bielorússia e a Rússia sido os países mais fortemente atingidos. A radioatividade chegou a ser detetada na Irlanda.
Estimam-se milhares de mortos em consequência da radiação - entre 4 mil e 90 mil.
26 de abril de 1986
Após a explosão, o reator 4 foi coberto um sarcófago temporário. Este sarcófago de betão que envolveu o reator 4 num primeiro momento foi construído à pressa como uma solução temporária, mas só 25 anos depois foi substituído por uma construção de aço mais resistente, projetada para durar 100 anos.
A evacuação de Pripyat e arredores só foi ordenada 36 horas após o acidente. Cerca de 50 mil pessoas foram retiradas de Pripyat, incluindo 17 mil crianças, e transportadas em centenas de autocarros para uma zona segura. Na altura foi-lhes dito que a evacuação duraria apenas três dias, mas a maioria nunca mais voltou a casa.
Nas semanas e meses a seguir, mais 67 mil pessoas foram retiradas das áreas contaminadas. No total, estima-se que cerca de 200 mil pessoas tenham sido deslocadas.
Foi determinada uma zona de exclusão de 2.600 km2.
Embora ainda seja ilegal morar na zona de exclusão de 30 km2, muitas pessoas quiseram regressar às suas casas. Estima-se que 130 a 150 pessoas vivam lá - muitas das quais ainda cultivam as terras de suas famílias.
A central nuclear de Chernobyl só foi definitivamente encerrada em dezembro de 2000, 14 anos após o acidente.
Ao fim de 37 anos, as consequências ainda não são mensuráveis
As consequências reais do desastre de Chernobyl em grande parte continuam a não ser reconhecidas e até são subestimadas.
Os danos imediatos causados pela explosão não foram nada comparados com as consequências a longo prazo, tanto em termos de custos humanos quanto políticos, como as altas taxas de cancro registadas nas áreas vizinhas nos anos seguintes ao desastre. O então Presidente soviético Mikhail Gorbachev afirmou mais tarde que foi o desastre de Chernobyl, mais do que qualquer outro fator, que causou a queda da União Soviética.
O desastre nuclear na central japonesa de Fukushima Daiichi, na sequência de uma terramoto e tsunami.
O acidente libertou pelo menos 100 vezes mais radiação do que as bombas atómicas lançadas sobre Nagasaki e Hiroshima na II Guerra Mundial.
Uma "nuvem" composta de elementos radioativos (iodo-131, césio-134 e césio-137) escapou do local nos dez dias seguintes, que, empurrada pelos ventos, contaminou grande parte da Europa.
A maior parte da "chuva radioativa" caiu na Ucrânia, Bielorrússia e Rússia. Mais de 350.000 pessoas foram retiradas das imediações da central, mas cerca de 5,5 milhões permaneceram.
A contaminação com césio e estrôncio é uma das grandes preocupações, pois estes elementos químicos permanecerão no solo durante muitos e longos anos.
Após o acidente, vestígios de depósitos radioativos foram encontrados em quase todos os países do hemisfério norte. Mas o vento e as chuvas irregulares deixaram até algumas áreas mais contaminadas do que as contíguas. A Escandinávia foi gravemente afetada e ainda existem áreas do Reino Unido onde as quintas têm de fazer controlos regulares, assim como em França, e estes são apenas exemplos na Europa.
Centrais nucleares num país em guerra
A Ucrânia tem 15 reatores atualmente em funcionamento. É o sétimo maior produtor de eletricidade nuclear do mundo, segundo os dados da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).
É também um dos países mais dependentes da energia nuclear, sendo que mais de 50% da sua eletricidade provém desta energia.
Os reatores são de desenho soviético e depois russo do tipo VVER - reatores de água pressurizada, como os instalados em França.
Seis reatores estão agrupados na maior central nuclear da Europa em Zaporíjia, no sul da Ucrânia, que tem sido atingida por bombardeamentos russos. Foram colocados em serviço entre 1984 e 1995.
Mas os reatores atuais são de uma tecnologia diferente considerada mais segura e a central tem uma conceção diferente da de Chernobyl, que não tinha um compartimento de contenção para proteger o reator.
As autoridades ucranianas notaram recentemente um aumento da radiação em Chernobyl, mas a AIEA considerou que os valores medidos não apresentavam "nenhum perigo para o público".
Especialistas levantaram a hipótese de um aumento da radioatividade causado pela agitação militar na guerra que opõe a Ucrânia à Rússia que pode ter revolvido a terra e levantado poeira contaminada.