Bruno Costa, analista de Ciência Política, considera que as dúvidas do PSD ficaram esclarecidas com as respostas do primeiro-ministro sobre a intervenção do SIS no caso do computador de Frederico Pinheiro. No entanto, defende que a "demora do esclarecimento" é estranha. Aponta ainda para um desgaste na relação entre o Presidente da República e o primeiro-ministro.
"Ficam esclarecidas as dúvidas do PSD. A questão é a demora do esclarecimento. Já tinha sido pedido há um mês. Estranha-se a demora num esclarecimento cabal, muito simples do primeiro-ministro", afirma.
Na Edição da Manhã, o analista de Ciência Política considera que houve uma "preocupação excessiva".
"Do meu ponto de vista fica apenas a questão da legalidade da ação. É, de facto, uma perspetiva opinativa do primeiro-ministro de que a ação foi legal, mas as dúvidas sobre a legalidade subsistem".
O primeiro-ministro diz que a ação do Serviço de Informações de Segurança (SIS) na recuperação de um computador levado do Ministério das Infraestruturas não envolveu qualquer autorização sua nem resultou de sugestão do seu secretário de Estado Adjunto, Mendonça Mendes.
Estas afirmações constam das respostas de António Costa, a um requerimento do PSD com 15 perguntas sobre a atuação do SIS para a recuperação do portátil levado por Frederico Pinheiro, ex-adjunto do ministro das Infraestruturas, João Galamba, na noite de 26 de abril.
Bruno Costa refere ainda que há "claramente a identificação do caso concreto": temos os "intervenientes e o assumir de responsabilidades" por parte de Eugénia Correia e um "ilibar de responsabilidades" do primeiro-ministro e de António Mendonça Mendes.
Sobre a coordenação entre o SIS e a Polícia Judiciária, diz:
"António Costa afirma que houve essa coordenação, mas é de estranhar que a Polícia Judiciária se tenha deslocado a casa de Frederico Pinheiro posteriormente a esta intervenção do SIS porque, se houve essa coordenação, essa deslocação seria totalmente desnecessária".
O especialista considera que a audição parlamentar a António Mendonça Mendes "passará ao lado" da vertente mediática. A comissão parlamentar de inquérito ganhará novo relevo com as audições de Hugo Mendes e de Pedro Nunos Santos, defende.
Sobre a relação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, aponta para um "desgaste":
"Há um desgaste no último ano na relação entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa e isso é evidente na forma, conteúdo e declarações públicas dos dois representantes".
Bruno Costa diz ainda que, apesar de Marcelo Rebelo de Sousa tentar intervir menos, o seu carisma não o permite ter "alguma reserva mediática".
"A pressão não foi tão direta como já fez noutros casos envolvendo ministros e membros do Governo", refere ainda.