Evitando prolongar mais a questão de com quem falou sobre a atuação do Serviço de Informações de Segurança (SIS) no caso da recuperação do computador do ex-adjunto do ministro João Galamba, o Presidente Marcelo revelou, aos jornalistas, quem foi, afinal, a “entidade oficial” com a qual abordou a questão. Trata-se do primeiro-ministro António Costa.
Questionado pelos jornalistas sobre com quem falou, afinal, Marcelo foi ao início da tarde desta quinta-feira mais direto e claro na resposta: “Já, já disse foi com o senhor primeiro-ministro”.
“Já perceberam que a matéria do SIS não foi falada nos contactos primeiros [e] à distância, também já perceberam que disse o essencial no dia 4”, justificou o chefe de Estado, assinalando que “os serviços são do Estado não de um Governo”
Mais, concluiu: “Nenhum chefe de Estado fala em público de problemas nos serviços”.
Marcelo desvenda enigma
A afirmação do Presidente esclarece a dúvida que o próprio lançou. Antes da cerimónia de abertura da 93.ª edição da Feira do Livro de Lisboa, no final da semana passada, Marcelo revelou que foi a 29 de abril que teve o primeiro contacto sobre a intervenção do SIS na recuperação do computador levado do Ministério das Infraestruturas, mas não revelou com quem falou.
Questionado sobre se foi o primeiro-ministro quem o informou, respondeu: "O que posso dizer é que o primeiro contacto que tive sobre esta matéria com alguém foi no dia 29 [de abril], no regresso da Ovibeja".
“Pois se eu não conto as conversas que tenho, menos ainda conto as conversas que tenho sobre uma matéria em que o que eu queria dizer disse no dia 4 [de maio]. Se eu tiver de dizer alguma coisa, direi mais tarde”, acrescentou, sem revelar nomes.
Já esta quarta-feira, novamente questionado pelos jornalistas, o Presidente da República continuou a não esclarecer quem o contactou para o informar da ação do SIS, dizendo apenas que o contacto chegou de uma entidade oficial.
"Esse alguém, contactou-me no dia 29 [de abril]. Depois, disse que tinha anotado que o senhor primeiro-ministro tinha publicamente afirmado que, no contacto feito com o Presidente da República, não tinha falado do SIS. Esclareceu isso. Somando um mais um dá para perceber quem foi o alguém que contactou o Presidente da República no dia 29”, disse Marcelo.
Mais tarde, o próprio chefe de Estado confirma à SIC e à agência Lusa que "desde os acontecimentos e até hoje só teve contactos sobre a matéria que tratou na sua comunicação de 4 de maio com uma só entidade oficial – aquela que lhe falou no dia 29 de abril e que era competente para propor a exoneração de um membro do Governo", numa alusão ao primeiro-ministro, António Costa, mas sem o mencionar.
A pessoa com quem falou, acrescentou Marcelo nesse esclarecimento, é “a mesma que declarou na Assembleia da República no dia 24 de maio que tinha conversado com o Presidente da República no dia 29 de abril e que não tinha então abordado o assunto SIS”.
O chefe de Estado terminava o esclarecimento vincando que "não teve, portanto, nenhum outro contacto, nomeadamente com qualquer outro órgão de soberania ou seu titular".
Já hoje, assumiu de forma clara e com todas as letras: “Já disse foi com o senhor primeiro-ministro”.
O que disse Costa no Parlamento?
Durante o debate com o Governo sobre política geral na Assembleia da República, o primeiro-ministro afirmou que falou com o ministro das Infraestruturas já depois da atuação do SIS: "Falei com o ministro João Galamba, tal como falei com outros ministros, como falei com o Presidente da República, como falei com 'n' pessoas".
Esta resposta foi dada ao líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, mas depois complementada em discussão com o presidente do Chega, André Ventura, tendo António Costa clarificado que não falou com Marcelo Rebelo de Sousa sobre a atuação dos serviços de segurança.
"Se eu disse de alguma forma que tinha informado o senhor Presidente da República sobre a intervenção do SIS, aproveito a sua pergunta para corrigir imediatamente. Eu nunca informei o senhor Presidente da República sobre a intervenção do SIS, que fique claro", esclareceu o primeiro-ministro.