Apesar de a hipótese de terrorismo estar praticamente afastada, o líder do Chega quer ouvir o ministro da Administração Interna (MAI) no Parlamento sobre o ataque ao centro ismaelita e responsabiliza o primeiro-ministro pelo que aconteceu, acusando o Governo de adotar uma “política de bandalheira” no que diz respeito ao acolhimento de refugiados.
Depois de um tweet alvo de críticas, André Ventura foi mais ponderado na declaração na sede do partido, dizendo que situações como esta exigem prudência nas reações "até perceber que tipo de crime é que está em causa e, sobretudo, tendo em conta que, sendo praticado no contexto em que é, pode indiciar" um "crime com motivações terroristas".
Acontece que, ao final da tarde, no Parlamento, o líder do Chega intensificou o tom das críticas. Dirigindo-se ao primeiro-ministro, André Ventura disse que “os portugueses não podem ser sujeitos a um tipo de violência que não conseguem controlar nem conter”. Anunciando que o Chega vai chamar o ministro do MAI ao Parlamento, para todas as explicações", Ventura disse ainda ser intenção do partido “agendar um debate com urgência no Parlamento sobre imigração, segurança e terrorismo”.
“Mas hoje há questões que têm de ser feitas: quem são estes centenas ou milhares de afegãos que chegaram a Portugal? Que controlo foi feito? (…) Seja terrorismo ou não, foi esta política de bandalheira de portas abertas de nenhum controlo, que nós avisámos durante anos que trariam problemas ao país e que fomos ignorados, que se traduziu neste resultado”, concluiu.
Na opinião de Ricardo Costa esta é uma “discussão completamente absurda” e “as declarações de André Ventura bizarras”. “Diz que há anos e anos que andam a avisar para isto, [mas] para isto o quê? Para uma pessoa que se vai revoltar numa aula de português? Anda há anos e anos a avisar que com a imigração pode haver aqui um grande problema de segurança. Ora, o que aconteceu [hoje no Centro Ismaili] não teve nada a ver com isso”, vincou.
A comparação feita pelo líder do Chega “é como quem diz que vai haver uma invasão de marcianos e um dia vê uma pessoa de vestida de verde junto ao Tejo e acha que é um marciano. Não tem nenhum sentido”.
Até porque, prosseguiu, “a entrada deste refugiado em Portugal deu-se num acordo completamente fechado no quadro da UE - entre Portugal e a Grécia - para que algumas pessoas pudessem ser distribuídas e acolhidas em vários países. Portanto, não foi nenhum refugiado que chegou a Portugal de forma menos organizada”.
Acontece que, neste caso, ”correu mal, teve um momento tresloucado, matou duas pessoas. Agora achar que isto é um problema de segurança é absurdo".
Fazendo a distinção entre este caso e, por exemplo, o dos cidadãos iraquianos detidos em 2021 por suspeitas de ligação à organização terrorista Daesh, Ricardo Costa acrescentou: além de não fazer “nenhum sentido, este discurso é perigoso e tonto. Porquê? Portugal tem fronteiras abertas com Espanha, com França e consequentemente com a Bélgica e com a Itália”.
E, lembrou, “neste países todos, nomeadamente em Espanha, França e Bélgica, há células islâmicas que já perpetraram vários ataques terroristas graves, portanto se alguém quisesse fazer um ataque terrorista em Portugal, nós temos fronteiras abertas para esses países".
"Se André Ventura quer que o país feche as fronteiras, tem que levantar a questão no quadro da UE, não é fácil e aliás será uma profunda estupidez do ponto de vista económico. (…) Temos que confiar nas polícias de cada um dos países”, concluiu, assinalando que a belga é considerada a pior.