Além Fronteiras

António Oliveira: das aventuras com o pai Toni no Irão ao "apaixonante" povo brasileiro

Partilha três nomes com o pai, mas, ao contrário de Toni, abdicou de quaisquer diminutivos e construiu, a solo, uma carreira a que o tempo deu solidez e o mérito trouxe vitórias. Em entrevista a Nuno Luz, António Oliveira fala sobre o melhor e o pior das experiências no Brasil e conta histórias hilariantes que viveu com o pai no Irão.

Nuno Luz

André de Jesus

Gabriel Pato

António José Cardoso de Oliveira. Aos 42 anos, é já o segundo treinador português com mais jogos disputados no futebol brasileiro - apenas atrás de Abel Ferreira. No Brasil, soma passagens por cinco diferentes clubes e “experiências brutais”. No palmarés, destaca-se um título internacional: uma Copa Sudamericana conquistada no Athletico Paranaense.

"Sempre disse que só sairia do Cuiabá em duas situações"

Durante a segunda ‘vida’ de António Oliveira no emblema de Mato Grosso, em 2023, surgiu a possibilidade de treinar um dos maiores emblemas do “país-irmão”, o Corinthians.

Apesar da grandeza do “Timão”, o treinador português só admitia deixar o Cuiabá em dois cenários: “Ou o presidente me demitia ou alguém chegava lá e pagava a cláusula. E isso aconteceu”.

Em São Paulo, encontrou um clube a viver um período financeiro muito conturbado. “À medida que o tempo passava, os recursos eram cada vez menores. Ainda assim, deixámos a equipa em todas as competições, estava nos ”oitavos" da Copa do Brasil e a disputar o Brasileirão".

“Presidente do Corinthians não cumpriu a sua palavra”

A saída do comando técnico do “Coringão” aconteceu em julho, a meio da temporada, com António Oliveira a ser demitido do cargo.

“Chegou uma altura em que o presidente, basicamente, teve de salvar a pele, mas, na minha ótica, não cumpriu a sua palavra, que era dar aquilo que eu queria e que veio depois. Sempre disse: ‘Não estou aqui para andar a roer o osso e depois vir alguém comer o lombo’.”

Ainda assim, guarda satisfação pelo que alcançou no Corinthians: “Felizmente tenho esse carinho da torcida, que me orgulha imenso”.

Sucesso português no Brasil: "Tudo se inicia com Jorge Jesus"

Ser treinador português no Brasil (e não só) é, cada vez mais, um sinónimo de triunfos e conquistas, e António Oliveira salienta a importância de quem começou a desbravar esse caminho.

“Tudo se inicia com Jorge Jesus, é bom não esquecer. (…) As pessoas vão à procura dos treinadores ganhadores e o treinador português tem mostrado isso”, afirma.

Sobre o estilo de vida em território brasileiro, o técnico português destaca, além do povo, “fervoroso e fascinante”, a carne, “às vezes muito gorda, mas bastante saborosa”. Do que menos gosta? Do trânsito, “principalmente o de São Paulo”.

“Gosto de ir jantar fora, num bom restaurante. É importante ter o meu momento”, diz António Oliveira.

"Sempre me senti seguro no Irão"

Foi em solo iraniano que António Oliveira iniciou a aventura como treinador. Entre 2012 e 2016, foi adjunto do pai no Tractor, uma experiência da qual faz um “balanço muito positivo”.

“Sempre me senti seguro [no Irão]. Senti muita segurança. Encontrei um povo muito generoso, carinhoso e apaixonado pelo futebol”.

Um dos momentos mais marcantes que viveu no país aconteceu em agosto de 2012, quando dois sismos de magnitudes 6.4 e 6.3 causaram mais de 300 mortos e 3.000 feridos. Um episódio assustador, mas do qual ficou uma história caricata.

"O meu pai tentava segurar a parede e pediu-me para lhe dar a mão"

No dia do forte abalo, António Oliveira e Toni, que viviam na mesma casa, estavam a preparar-se para sair para o treino quando o “chão parecia que estava a sair”.

“O meu pai começou a encostar a mão à parede e a dizer-me ‘Dá cá a mão, filho’…Ele estava a agarrar na parede para quê?”, questiona, entre risos.

“Hoje rio-me, mas na altura claramente entrámos em pânico. (…) A força da natureza é incrível, os prédios pareciam peças LEGO”, recorda António Oliveira.

Em 2023, surgiu a possibilidade de regressar ao Cuiabá um ano depois de ter saído. António Oliveira recorda um telefonema insólito que recebeu do presidente do clube, que insistiu (e de que maneira) para que voltasse, mesmo estando a fazer uma formação da UEFA em Portugal.

Histórias hilariantes com o pai Toni no Irão

Dos anos no Irão ficaram também vivências muito caricatas - como esquecer icónicas conferências de imprensas de Toni no Tractor - e momentos absolutamente hilariantes.

O treinador português lembra uma ‘troca de galhardetes’ entre o pai e o presidente do clube iraniano e recorda o dia em que o pai teve de sair do estádio… numa ambulância.

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