O presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, disse hoje ter ficado "muito desapontado" com as conclusões da reunião dos ministros do Interior da União Europeia (UE) sobre o Afeganistão, lamentando falta de disponibilidade para acolher requerentes de asilo.
"Fiquei muito desapontado com as conclusões do Conselho dos Assuntos Internos de ontem. Vimos países de fora da UE a disponibilizaram-se para acolher requerentes de asilo afegãos, mas não vimos um único Estado-membro a fazer o mesmo", criticou hoje o líder da assembleia europeia.
Discursando no Fórum Estratégico de Bled, na Eslovénia, um dia depois da reunião extraordinária dos ministros do Interior da UE e antes dos encontros informais dos ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros na Eslovénia, David Sassoli acrescentou que "todos [os Estados-membros] pensaram corretamente naqueles que trabalharam com a União e nas suas famílias, mas nenhum teve a coragem de oferecer refúgio àqueles cujas vidas ainda hoje estão em perigo".
"Não podemos fingir que a questão afegã não nos diz respeito porque participámos nessa missão e partilhámos os seus objetivos e metas".
Para David Sassoli, "uma voz europeia forte e comum na cena internacional é agora mais necessária do que nunca", devendo a Europa fazer esforços de "estabilização, construção da paz e desenvolvimento em conjunto com os parceiros num quadro multilateral" e avançar para "uma verdadeira política de segurança e defesa comum".
Os ministros do Interior da UE comprometeram-se na terça-feira a, após as "lições aprendidas" na crise migratória de 2015, prevenir "movimentos migratórios ilegais em larga escala e descontrolados" devido à situação no Afeganistão, prometendo ainda assim proteção aos civis na região e aos refugiados.
"Com base nas lições aprendidas, a UE e os seus Estados-membros estão determinados a agir conjuntamente para evitar a recorrência de movimentos migratórios ilegais em larga escala e descontrolados enfrentados no passado, através da preparação de uma resposta coordenada e ordenada", lê-se na declaração conjunta subscrita pelos ministros dos 27 Estados-membros.
No final de uma reunião extraordinária realizada presencialmente e dedicada à situação no Afeganistão, numa altura de instabilidade na região principalmente pela retirada oficial de hoje da ocupação norte-americana, os responsáveis vincam que "os incentivos à migração ilegal devem ser evitados".
A UE rejeita, assim, repetir a crise migratória de 2015, a situação crítica humanitária vivida por centenas de milhares de refugiados chegados nessa altura ao espaço comunitário e oriundos maioritariamente de África e Médio Oriente.
Salientando que "a gravidade da evolução da situação exige uma resposta determinada e concertada da UE e da comunidade internacional às suas múltiplas dimensões", os responsáveis europeus asseguram que a União "e os seus Estados-membros farão o seu melhor para assegurar que a situação no Afeganistão não conduza a novas ameaças à segurança dos cidadãos da UE".
Na área humanitária, o Conselho reconhece "a necessidade de apoiar e proporcionar proteção adequada às pessoas necessitadas, em conformidade com a legislação da UE e as suas obrigações internacionais, e de aproximar as práticas dos Estados-membros no acolhimento e processamento dos requerentes de asilo afegãos".
Ao mesmo tempo, "a UE deve também reforçar o apoio aos países vizinhos imediatos do Afeganistão para assegurar que os necessitados recebam proteção adequada principalmente na região", defendem os ministros.
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Os talibãs conquistaram Cabul em 15 de agosto, concluindo uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO, que se encontravam no país de 2001, na sequência do combate à Al-Qaeda após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.