O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, discursou esta terça-feira sobre a retirada dos militares norte-americanos do Afeganistão. A retirada estava prevista ser concluída esta terça-feira, 31 de agosto, mas foi antecipada um dia, tendo os últimos militares saído do país na segunda-feira.
Joe Biden começou por elogiar os militares norte-americanos e o sucesso da missão de retirada dos milhares de pessoas que saíram do Afeganistão, num discurso que foi adiado várias vezes. Além disso, o Presidente norte-americano destacou ainda o trabalho de quem esteve envolvido neste processo, sublinhando que "tiveram a vida em risco" para cumprir a missão.
"Cumprimos uma das maiores pontes aéreas da história, com mais de 120 mil pessoas retiradas para segurança. Esse número é mais do dobro do que os especialistas tinham calculado. Nenhuma nação fez algo assim na história", afirmou.
O Presidente prestou ainda homenagem aos 13 militares que morreram no atentado no aeroporto de Cabul.
Sobre a chegada dos talibã a Cabul, Biden reconhece que todo o trabalho feito pelos militares ao longo dos 20 anos não produziu os resultados esperados.
"O povo do Afeganistão assistiu ao colapso do seu próprio Governo e à fuga do seu Presidente, por entre atos de corrupção e má conduta, e à entrega do país aos seus inimigos, os talibã, aumentando significativamente os riscos para o pessoal americano e para os nossos aliados. Foi essa a escolha, a verdadeira escolha, entre a retirada e o agravamento da situação. Eu não quis prolongar esta guerra interminável."
Biden avança ainda que a grande maioria dos norte-americanos que quiseram abandonar o país conseguiram sair, embora haja algumas pessoas que queiram permanecer no país. Para os que ficaram e mudem de opinião, querendo sair do Afeganistão, Biden promete ajuda para que abandonem o país.
Refere ainda que a operação de retirada aconteceu tal como foi planeada e que foi desenhada com o objetivo de proteger a vida dos cidadãos norte-americanos no terreno. Deixou ainda um recado para os talibã:
"Ontem [segunda-feira] o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) aprovou a resolução para enviar uma mensagem clara de que espera que os talibã cumpram e evoluam de forma notável a liberdade de viagem, liberdade para sair do país. Em conjunto mais 100 países querem garantir que os talibã honrem esses compromissos", sublinhou o Presidente, referindo que este compromisso foi feito na televisão.
Para Biden, a decisão de retirar as tropas do terreno teve como objetivo proteger dezenas de milhares de militares norte-americanos de irem para a guerra, lembrando que a decisão já tinha sido tomada em administrações anteriores.
"Eu assumo responsabilidade pela decisão", disse o Presidente norte-americano.
O Presidente lembrou ainda que o principal objetivo dos Estados Unidos no Afeganistão era garantir que o país não voltasse a ser usado para atacar o território norte-americano, recusando uma terceira década de guerra. Com esta afirmação, Biden responde aos que consideram que os EUA deveriam permanecer no Afeganistão.
As prioridades para a defesa dos EUA são agora outros, o que justifica uma mudança de estratégia - com a Rússia e a China em principal destaque -, o que justifica a retirada dos militares do Afeganistão.
"Se alguém ficou com a ideia errada, deixem-me dizer-lhes claramente: aqueles que tentam cometer atos terroristas contra os nossos aliados, os Estados Unidos nunca vão descansar, não vamos perdoar, não vamos esquecer. Vamos perseguir-vos até ao final da Terra e vamos fazer-vos pagar o preço mais elevado. Deixem-me ser absolutamente claro: vamos continuar a apoiar o povo afegão através da diplomacia, da ajuda humanitária", afirmou ainda, destacando que "os direitos humanos vão ser o centro da política internacional".
Joe Biden avançou ainda que a guerra no Afeganistão custou três mil milhões de dólares e sublinhou as perdas das vidas perdidas e dos militares que ficaram feridos em serviço. Lembrou que o filho serviu no Afeganistão e que muitos veteranos perderam muito da sua relação familiar devido a uma guerra que não era dos Estados Unidos.
"Recuso-me a continuar uma guerra que não estava ao serviço do interesse do nosso povo", afirmou, lembrando ser o quarto Presidente que teve de lidar com esta situação.
Missão no Afeganistão chega ao fim depois de 20 anos
A missão dos Estados Unidos da América no Afeganistão terminou esta segunda-feira à noite, com a retirada definitiva das tropas. Todos os militares abandonaram o país, mas ficaram ainda quase 200 cidadãos norte-americanos que não conseguiram sair a tempo.
Depois da saída do último avião norte-americano, um dia antes do prazo estabelecido pelo Presidente Joe Biden, os talibã ficaram com o controlo do aeroporto de Cabul. Assim que os últimos aviões levantaram voo, os talibã fizeram a festa por toda a cidade disparando tiros para o ar e proclamando a independência total do Afeganistão.
Desde 14 de agosto, mais de 120 mil pessoas conseguiram sair do Afeganistão, um número inferior ao desejado pelo ocidente e por milhares de pessoas que ficaram para trás.
A retirada dos últimos soldados norte-americanos que estavam no Afeganistão põe fim a uma guerra que começou a seguir ao atentado de 11 de setembro de 2001. Vinte anos depois, o fim deste conflito marca o início de uma nova era com o regresso dos talibã ao poder.
O QUE SE PASSA NO AFEGANISTÃO?
Os talibã conquistaram Cabul em 15 de agosto, concluindo uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no território o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
A tomada da capital pôs fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e aliados na NATO, incluindo Portugal.