Afeganistão

Afeganistão. PM holandês admite deixar para trás um "grande número" de pessoas

Um grupo de 118 pessoas conseguiu chegar ao aeroporto na quarta-feira à noite.

Olivier Hoslet

Lusa

O primeiro-ministro holandês admitiu que há "um grande número" de holandeses e afegãos que não poderão chegar esta quinta-feira ao aeroporto de Cabul, o último dia de voos da Holanda, uma situação que descreveu como "realmente terrível".

Falando numa conferência de imprensa, Mark Rutte reconheceu que o número de holandeses e as suas famílias que ficarão retidos no Afeganistão é "significativo", mas ainda está por determinar exatamente de quantas pessoas se trata.

Um grupo de 118 pessoas conseguiu chegar ao aeroporto na quarta-feira à noite, após mais de 24 horas de espera dentro de três autocarros, e será retirado pela Holanda nas próximas horas.

Estas pessoas viajarão com a equipa consular e os militares holandeses que têm estado a coordenar a operação em Cabul desde a semana passada.

"A situação no aeroporto de Cabul é realmente terrível. As pessoas estão aterrorizadas. Existe uma ameaça terrorista", disse Rutte, citado pela agência espanhola EFE.

As declarações do primeiro-ministro holandês foram feitas antes de notícias sobre uma explosão próximo do aeroporto de Cabul.

Rutte recordou que foram as autoridades norte-americanas que pediram à Holanda para terminarem a sua operação e abandonarem esta quinta-feira o aeroporto de Cabul.

O chefe do Governo chamou à necessidade de encontrar formas de tirar holandeses e afegãos que ficaram para trás um "dever sagrado" e disse que existe um diálogo aberto com outros países sobre essa questão.

"Todos os países têm o mesmo problema", afirmou.

"É um facto que não conseguiremos tirar [todos] os holandeses de lá com as suas famílias e outras pessoas que poderiam ter sido retiradas. Estamos a manter contactos dentro da Europa sobre como podemos apoiar essas pessoas da melhor forma possível", disse.

Rutte prometeu uma investigação sobre "se foram cometidos erros" no Afeganistão, incluindo a partida de diplomatas holandeses após a queda de Cabul, que foram fortemente criticados por terem saído da capital afegã à noite sem dizerem aos seus colegas afegãos da embaixada.

O primeiro-ministro explicou que "haverá uma descrição de como tudo correu nas últimas semanas, porque muito tem acontecido durante meses, mas a grande questão é se já foi feito o suficiente" a favor dos colaboradores afegãos com as missões holandesas.

"Nós, tal como outros países europeus, ficámos impressionados com a rapidez com que os talibãs assumiram o controlo e fizemos uma avaliação incorreta da situação", admitiu.

O parlamento holandês exigiu ao executivo, através de uma moção, que incluísse todos os afegãos que trabalharam de alguma forma para a Holanda, como condutores, cozinheiros, seguranças e jornalistas locais, e não apenas intérpretes.

Rutte disse ainda que a missão internacional no Afeganistão foi necessária após os atentados de 11 de setembro de 2001, mas lamentou que tivesse chegado a um fim "muito dececionante".

"Gostaria de lhes dizer: não foi em vão, mas este fim é muito dramático", lamentou Mark Rutte, dirigindo-se aos veteranos holandeses que estiveram no Afeganistão.

Os talibãs retomaram o poder no Afeganistão a 15 de agosto, após uma ofensiva que intensificaram em maio, com o início da retirada das forças internacionais que tinham posto fim ao seu regime de cinco anos, em outubro de 2001.

Desde a tomada de Cabul, milhares de pessoas têm-se dirigido diariamente para o aeroporto da capital para tentar fugir aos talibãs, numa operação de resgate organizada pelas forças internacionais, que saíram do país em 31 de agosto.

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