O ex-Presidente norte-americano George W. Bush manifestou esta terça-feira "profunda tristeza" pelo regresso dos talibãs ao poder no Afeganistão, enquanto o último dirigente soviético, Mikhail Gorbatchev, considerou a invasão do país pelos Estados Unidos "uma má ideia desde o início".
Perante a tomada de poder pelos talibãs em Cabul, George W. Bush, o Presidente norte-americano que há 20 anos desencadeou a ofensiva norte-americana no Afeganistão, que agora regista uma conclusão humilhante para a principal potência mundial, defendeu, em comunicado, que os Estados Unidos têm "a responsabilidade e os meios" para retirar do país os afegãos que os ajudaram e cujas vidas estão agora ameaçadas.
"Os afegãos mais ameaçados neste momento são aqueles que estiveram na vanguarda do progresso no seu país", escreveu.
"Temos a responsabilidade e os meios para lhes garantir uma saída segura a partir de agora, sem atrasos burocráticos", considerou George W. Bush, em conjunto com a mulher, Laura Bush, recordando que "o Presidente Biden prometeu retirar do país esses afegãos".
O Afeganistão caiu nas mãos dos talibãs no domingo quando, após uma ofensiva fulgurante, entraram em Cabul sem encontrar resistência, antes mesmo de terminar o prazo definido por Joe Biden para a retirada dos últimos militares norte-americanos, 31 de agosto.
Os Estados Unidos, apanhados de surpresa, estão a esforçar-se por retirar do país os seus cidadãos, os seus militares e afegãos que trabalharam para o exército norte-americano.
Muitos afegãos temem que os talibãs imponham a mesma versão extremista da lei islâmica que adotaram quando dirigiram o país, entre 1996 e 2001, reduzindo a zero, ou quase, os direitos das mulheres.
Por seu lado, Mikhail Gorbatchev, que ordenou o fim da desastrosa campanha militar soviética no Afeganistão, declarou esta terça-feira à agência russa RIA Novosti que a invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos e seus aliados "foi uma má ideia desde o início, apesar de a Rússia a ter inicialmente apoiado", acrescentando que "o fracasso deveria ter sido admitido ainda mais cedo".
"Agora, é importante tirar as lições da situação e não repetir esses erros", sublinhou Gorbatchev.
Os Estados Unidos interviram no Afeganistão em 2001, porque os talibãs - no poder no país desde 1996 - davam refúgio ao líder do Al-Qaeda, Osama bin Laden, autor moral dos atentados do 11 de Setembro de 2001.
A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) também esteve durante 10 anos envolvida num conflito no Afeganistão, iniciado com uma invasão soviética em 1979.
Quando chegou ao poder, na primavera de 1985, Gorbatchev encontrou um país economicamente esgotado, atolado no Afeganistão e incapaz de prosseguir a corrida aos armamentos.
Concebeu, então, a sua política da Perestroïka (reconstrução, em russo) para reorganizar o sistema soviético e decidiu retirar em 1989 o Exército Vermelho do Afeganistão.
Seguiram-se anos de guerra civil no país, que acabaram por conduzir ao poder os talibãs, alguns dos quais são os herdeiros dos mujaidines (Soldado de Deus) que combateram as tropas soviéticas.