O sítio onde se calaram as vozes do voo 93
Trata-se do quarto avião dos atentados de 11 de setembro de 2001, que se distinguiu dos outros três por não ter atingido o alvo em Washington, presumivelmente o Capitólio (sede do congresso, que estava em sessão nessa terça-feira de manhã) ou a Casa Branca.
Os atentados mataram 2.977 pessoas em três locais distintos: nas Torres Gémeas do World Trade Center de Nova Iorque, no Pentágono, sede do Departamento de Defesa em Arlington (Virgínia), e em Shanksville (Pensilvânia).
Também morreram os 19 terroristas que sequestraram e pilotaram os quatro aviões usados na operação: cinco em cada um dos três aparelhos que atingiram as Torres Gémeas e o Pentágono, e quatro no que se despenhou a 20 minutos de voo de Washington.
Além da Torre das Vozes, adicionada ao memorial em 2018 e finalizada em 2020, o complexo naquele parque na Pensilvânia inclui uma parede de blocos de mármore branco polido com o nome de cada uma das vítimas, um centro educativo e uma calçada de granito preto que segue a trajetória do avião até ao ponto de impacto, assinalado por uma pedra de arenito de 17 toneladas.
"Por favor, permaneçam sentados. Temos uma bomba a bordo"
As gravações da "caixa negra", cruzadas com comunicações de controladores aéreos e chamadas telefónicas para familiares, permitiram concluir que passageiros e tripulantes, todos ou alguns, decidiram enfrentar os quatro sequestradores.
Treze pessoas fizeram 37 chamadas telefónicas a partir do Boeing 757 e ficaram a saber que dois aviões tinham sido lançados contra as Torres Gémeas. Esse desfasamento deveu-se a um atraso de 25 minutos na partida do voo 93 provocado por problemas de tráfego aéreo.
A fita do tempo do 11 de Setembro mostra que o avião descolou de Newark às 8:42 locais (13:42 em Lisboa), quatro minutos antes de o Boeing 767 do voo 11 da American Airlines chocar com a Torre Norte do WTC, em Manhattan. A segunda torre foi atingida às 09:03, e o Pentágono às 09:37. Às 09:25, a autoridade federal de aviação encerrou o espaço aéreo dos EUA a todos os voos civis por se desconhecer a dimensão do ataque.
Os quatro terroristas, que seguiam na primeira classe, entraram no 'cockpit' às 9:28. Foi quando controladores aéreos em Cleveland ouviram uma voz gritar "Mayday", o código para emergências, com um ruído de luta em fundo.
Trinta e cinco segundos depois, ouviram uma voz dizer - ou ordenar? - "saiam daqui!". Os controladores não sabiam de que avião chegavam as vozes, mas um deles suspeitou que fosse do voo 93 devido a uma mudança de altitude não autorizada.
Dois minutos depois, os controladores em Cleveland e aviões na mesma frequência ouviram a voz de um dos terroristas: "Senhoras e senhores, aqui o comandante. Por favor, sentem-se e permaneçam sentados. Temos uma bomba a bordo. Por isso, sentem-se".
O avião mudou então de rumo sem autorização dos controladores, que desviaram outros aviões da direção que o voo 93 tinha tomado.
"Eu não quero morrer"
Pelas 9:35, ouviu-se uma voz de mulher a suplicar três vezes "eu não quero morrer". Depois, uma assistente de bordo usou um telefone do avião para comunicar a situação à United Airlines em São Francisco e disse que os sequestradores tinham matado uma das suas colegas com uma faca.
O funcionário que atendeu a chamada notou uma voz "chocantemente calma". Este foi o primeiro dos 37 telefonemas feitos do voo 93, a maioria a partir de telefones de bordo instalados nas últimas nove filas de lugares.
Em pelo menos dois telefonemas, familiares foram informados de que os passageiros iam tentar atacar os sequestradores e um deles disse mesmo que estava a ser feita uma votação sobre o plano.
Numa chamada iniciada às 9:44, um passageiro comunicou que o comandante e o copiloto estavam feridos ou mortos, que um dos terroristas tinha um cinto vermelho com uma bomba à cintura e que outros dois estavam fechados no 'cockpit'.
Disse também que o avião estava a subir e a descer e tinha mudado de direção, e que ele e outros passageiros estavam a planear fazer alguma coisa.
Colocou o telefone no chão, mantendo-se a ligação até ao fim do voo, o que permitiu à operadora ouvir uma voz a dizer mais tarde: "Estão prontos? OK, vamos a isto!".
Em telefonemas seguintes, alguns admitiram que o avião também deveria ser usado para um ataque como nas Torres Gémeas e vários passageiros despediram-se.
A coragem dos passageiros que lutaram contra os terroristas
O ataque aos sequestradores começou às 9:58, e durou cinco minutos. Ouviram-se ruídos de luta, gritos, ordens, conversas entre os terroristas sobre o que fazer, com o avião sacudido por manobras repentinas antes de mergulhar de nariz a cerca de 900 quilómetros por hora.
Às dez horas, três minutos e nove segundos, a transcrição da "caixa negra" registou uma voz a dizer em árabe "Alá é grande, Alá é grande" e um suspiro.
Depois, as vozes do voo 93 calaram-se. Já só se ouvem quando o vento as ressoa na Torre das Vozes.
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