Numa altura em que a rede elétrica está praticamente restabelecida, João Faria Conceição, administrador da REN, prevê que a partir da meia noite a situação volte ao ponto em que estava antes do apagão.
Em entrevista ao Primeiro Jornal, o administrador da empresa responsável pela rede de transporte de energia em Portugal diz que neste momento já está tudo regularizado, falta apenas “regularizar alguns consumos e voltar aos níveis de consumo como estávamos na situação normal até ontem”.
“E principalmente falta uma componente que nós ainda não estamos a funcionar, que é a componente de mercado. Nós neste momento estamos a funcionar com uma gestão totalmente centralizada nos centros de controle, nas salas de despachos nacionais portuguesa e espanhola e prevemos que a partir da meia-noite de hoje voltemos à normalidade com o normal funcionamento do mercado ibérico de energia que determina qual é o portfólio ou qual é o conjunto de centrais que vão funcionar.”
Uma falta de componente que não deverá afetar os consumidores. João Faria Conceição explica que a REN estabeleceu todas as ligações às 23:22 de segunda-feira.
“Os consumidores, da informação que temos, estão todas as ligações estabelecidas. Nós, REN, restabelecemos a normalidade do funcionamento, ou a disponibilidade do funcionamento de todas as nossas infraestruturas ontem, exatamente às 23:22 minutos. Ligámos a última subestação da rede de muito alta tensão que estava ainda fora do sistema”.
“A informação que nós dispomos é que hoje, por volta das 6:00, a rede de distribuição, a E-Redes, já tinha conseguido restabelecer a ligação com todos os consumidores, nomeadamente os consumidores domésticos, faltando a ligação marginal de cerca de 1000 consumidores. Um pouco mais tarde, por volta das sete e qualquer coisa, oito horas, a E-Redes comunicou que tinha todos os consumidores ligados”, concluiu o administrador da REN.
“Acontecer pode sempre, risco não é zero”
Sobre se esta situação pode voltar a acontecer, João Faria Conceição explica que sim, porque “risco de uma ocorrência, de um evento, não é zero”.
“Pode acontecer. Nós, neste momento, estamos a trabalhar precisamente para que no imediato isso não aconteça. Neste momento estamos a funcionar com medidas de segurança para além do facto de não estarmos ainda em um regime de funcionamento de mercado. Estamos a funcionar com os dois sistemas ibéricos completamente separados. As interligações estão a funcionar, as ligações entre Portugal e Espanha, mas não estão a ocorrer nenhumas trocas de energia comerciais”.
Questionado sobre o porquê do sistema ser tão frágil, o administrador da REN explica que “ao contrário de outros sistemas de energia, a eletricidade tem que ser consumida no momento exato em que ela é produzida”
Temos formas alternativas de armazenamento, como nós armazenamos combustíveis fósseis ou outras, através das barragens ou através das baterias. Mas nunca é um armazenamento da produção propriamente dita, é um auxiliar de armazenamento. E o que aconteceu aqui ontem foi este equilíbrio que é exigido permanentemente entre a produção e o consumo, perdeu-se em Espanha de uma forma excessiva e isso fez com que o efeito de alastramento se passasse para Portugal”.
Relativamente à dependência de Espanha, João Faria Conceição diz que “questão da dependência ou não de Espanha não tem a ver com o facto de ter ocorrido um apagão.
"Para nós não termos tido um apagão em Portugal, com este fenómeno que aconteceu ontem em Espanha, só poderíamos garantir esse facto se Portugal tivesse num funcionamento completamente isolado e em linha”.
Um apagão geral deixou Portugal às escuras nesta segunda-feira. Luís Montenegro garantiu, já no fim da noite, que o fornecimento de energia estava assegurado a cerca de 80% da população e que os problemas de abastecimento dos geradores foram rapidamente resolvidos.
A E-Redes informou que até às 00:00 de terça-feira estavam ligadas parcialmente 424 subestações, alimentando cerca de 6,2 milhões de clientes.