Economia

O que quer a Worldcoin? Dúvidas não impedem milhares de portugueses de ceder imagem da íris

Quem espera na fila para fazer um scanner da íris a troco de dinheiro não sabe para que fins serão usados os seus dados.

Augusto Madureira

Pedro Carpinteiro

Na Gare do Oriente, em Lisboa, forma-se uma longa fila. O objetivo é chegar a uma esfera prateada, um dos cerca de 20 pontos de recolha da empresa Worldcoin instalados em Portugal. O objetivo é fazer um scanner da íris em troca de uma compensação em criptomoedas, no valor de várias dezenas de euros, mas nem todos, sabem exatamente para que fim é feita a recolha.

Maria Pinheiro não só acedeu a registar a sua íris como trouxe a mãe e o pai para fazerem o mesmo. “Acaba por ajudar, é um extra a mais, já compensa.”

“Foi meu filho tratou... pôs a aplicação e pronto, basicamente foi isso. Agora o seguimento das coisas é com ele... não sei mais nada”, admite uma das pessoas que aguardava na fila, que preferiu não ser identificada. “Acho que isto tem a ver com qualquer coisa de dinheiro, mas sinceramente não sei mesmo.”

A Agência Espanhola de Proteção de Dados (AEPD) ordenou esta quarta-feira a suspensão da atividade da Worldcoin e a Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) está a investigar a empresa desde o ano passado, assim como Reino Unido, França e Alemanha.

A intenção é perceber se a lei está ou não a ser violada, nomeadamente no que diz respeito ao tratamento de dados biométricos, já que a íris é única, como uma espécie de impressão digital.

Helena Machado, supervisora da Worldcoin, assegura que a “preservação da privacidade” está garantida.

“O nosso projeto é muito mais do que criptomoedas. Fazemos aqui um passaporte, o nosso Word ID, um passaporte digital que é uma prova de humanidade de todos os clientes.”

A proteção de menores é outra das preocupações. Ricardo Macieira, diretor europeu da Tools for Humanity, empresa que apoia a Worldcoin, assegura que há “muitas barreiras que garantem que quem se junta ao projeto é maior de 18 anos”.

“Temos cartazes enormes que explicam que este projeto é só para maiores de 18 anos (...) e quando uma pessoa se regista na aplicação tem de confirmar que tem mais de 18 anos.”

Em comunicado, a World ID diz que foi criada precisamente para dar às pessoas acesso, privacidade e proteção online na era da inteligência artificial.

Nesta altura, a empresa tem mais de três milhões de utilizadores em 35 países. Em Portugal terá recolhido dados de 300 mil pessoas.

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