Portugal regressou esta quarta-feira ao mercado obrigacionista para colocar 1007 milhões de euros em dois leilões de dívida a vencer em 2032 (maturidade restante de 9 anos) e 2035 (maturidade restante de 12 anos).
A emissão de dívida ocorre na véspera de uma reunião decisiva do Banco Central Europeu (BCE), em que estão em cima da mesa as opções de subir uma vez mais os juros ou decidir uma pausa no aperto monetário.
O montante colocado esta quarta-feira pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) é superior ao que foi emitido no leilão anterior em julho, que somou 749 milhões de euros.
O Tesouro português pagou 3,383% na emissão de 485 milhões de euros a 9 anos, menos do que pagara na operação de março (3,549%) e 3,632% na colocação de 522 milhões de euros a 12 anos, mais do que no leilão de 12 de julho (3,587%). Refira-se que, nesta última operação, Portugal pagou menos a 12 anos do que Espanha pagou na semana passada a 10 anos.
“Portugal continua a beneficiar do bom desempenho da sua economia, fator que fez com que recentemente a [agência de notação] S&P subisse o outlook para a economia nacional [para positivo]”, refere Filipe Silva, Diretor de Investimentos do Banco Carregosa. “Dos países da periferia, Portugal é o que apresenta o menor spread versus a Alemanha, o que tem permitido a que não se assista a uma escalada do prémio de risco destas novas emissões”, acrescenta.
“Este leilão antecede a reunião do BCE, que se vier a subir taxas poderia fazer com que as emissões de hoje tivessem um custo superior. A procura em ambas as emissões foi elevada, sendo que na mais longa, a de 12 anos, foi bem superior à do último leilão, a demonstrar a confiança que os investidores têm em comprar divida nacional”, conclui Filipe Silva.
Com a colocação desta quarta-feira, o Tesouro já emitiu mais de 9,5 mil milhões de euros de dívida obrigacionista este ano, o que representa 67% do objetivo de 14,2 mil milhões de euros fixado pelo governo para 2023. Em outubro, tem pela frente uma amortização de uma obrigação no valor de 9,4 mil milhões de euros.
No mercado da dívida da zona euro, a 7 de setembro, o Tesouro espanhol colocou dívida a 10 anos pagando uma taxa de 3,663%. Esta quarta-feira, Itália realizou dois leilões obrigacionistas nos prazos a 3 e a 7 anos tendo pago 3,86% e 4,21% respetivamente, acima dos juros pagos nas operações anteriores. Também, esta quarta-feira, na Alemanha, o leilão de dívida a 30 anos obrigou o Tesouro germânico a pagar mais aos investidores: 2,79% face a 2,68% na operação anterior.
Prémio mais baixo entre os periféricos
Até à data, Portugal ainda não lançou uma nova referência para o prazo a 10 anos, agora a vencer em 2033. O lançamento de novas linhas de obrigações de referência é feito através de operações sindicadas e não por leilões.
Apesar da subida no mercado secundário dos juros (yields) de referência dos títulos portugueses a 10 anos, o prémio de risco exigido pelos investidores para a dívida portuguesa continua a ser o mais baixo entre os países periféricos do euro.
O spread em relação ao custo da dívida alemã está em 80 pontos-base (0,8 pontos percentuais). Nove economias do euro registam prémios de risco superiores ao português, incluindo Espanha. Os prémios mais elevados registam-se na Lituânia (quase 200 pontos-base) e em Itália (178 pontos-base). Cada 100 pontos equivalem a um spread de 1 ponto percentual.
O mercado secundário é o mercado de dívida onde os investidores transacionam os títulos entre si. O mercado primário é o mercado onde os Estados emitem dívida através de operações sindicadas ou de leilões.