Economia

Quinta subida das taxas de juro: "Banca estará no coração da solução"

A comentadora da SIC e analista de mercados, Catarina Castro, explica o impacto e o “desafio” que a nova subida das taxas de juros terá, mas destaca que o 2.º semestre pode trazer “esperança” quer para as famílias, quer para as empresas. Mas para tal Governo, Banco de Portugal e a Banca terão um papel importante.

Ana Lemos

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou esta quinta-feira, e tal como previsto, uma nova subida da taxa de juro em 50 pontos base. A subida de hoje, idêntica à de dezembro, terá reflexo em todos os empréstimos, sobretudo no crédito à habitação. Por isso, prepare-se para mais uma aumento do valor da prestação da casa. Mas há um “sinal de esperança” a médio prazo. Isso mesmo explicou na antena da SIC a analista de mercados, Catarina Castro.

O que esta quinta-feira referiu a presidente do BCE, Christine Lagarde, acaba por de alguma forma reforça a mensagem que nos chegou de Davos há cerca de duas semanas. “A economia está mais resiliente e saudável do que se temeria. Segundo ponto, o próprio setor da banca está mais saudável e com a capacidade de salvaguardar algum sentido de pressão adicional este ano do que em muitos anos, e em muitas décadas”.

“Estes dois fatores trouxeram, tanto em Davos como agora no discurso de Lagarde, um sinal de esperança para o 2.º semestre do ano. A questão é que temos de chegar lá. [E] até lá vai ser um caminho complexo. Christine Lagarde está já a apontar que Estados-membros retirem estímulos para que se consiga perceber qual é o impacto tanto do efeito da subida da taxa de juro, como da inflação real subjacente – que não é previsível”, destaca a comentadora da SIC.

Apesar da imprevisibilidade, “à partida, pela evolução das diferentes commodities quer para o cabaz energético, quer para o cabaz alimentar, está relativamente controlada nestes dois grandes motores, [que representam] cerca de 80% da conta de inflação. A questão aqui tem um pouco mais a ver com preços a nível da logística, do transporte, da distribuição que é o que depois alimenta toda a cadeia do que chega à economia real e ao consumidor".

Além disso, resta saber se “estes aumentos salariais que as famílias tanto precisam" terão ou não impacto, porque "agora também contabilizarão para um aumento de cálculo de taxa de inflação, ele também superior”.

1.º semestre (ainda) trará aperto mas… há esperança

Estamos, portanto, perante o que a analista de mercados classifica de “dinâmica complexa”. Ainda assim, tudo aponta para que “o 1.º semestre ainda trará este aperto tanto para as famílias como para as empresas, [mas] a Banca estará provavelmente no coração da solução".

“Seria, [por isso,] muito útil que Governo, Banco de Portugal (BdC) e sindicatos dos bancos pudessem esclarecer [as pessoas] de forma mais clara, transparente e simplificada", sugeriu Catarina Castro, referindo-se às soluções apresentadas pelo Executivo para quem tem créditos à habitação mas que alguns bancos não estão a respeitar ou estão, pelo menos, a dificultar a renegociação.

A verdade é que, os bancos estão, neste momento, com uma boa “saúde financeira”. A questão é: Governo, reguladores e a própria banca devem adotar uma “articulação mais próxima e célere”.

“O passo que falta clarificar é o que foi pedido pelo Governo, o que o BdC tem de controlar e os bancos fazer nestas condições”, salientou, avisando que se tal não acontecer, e “se existir um aumento significativo de insolvências – quer de empresas, quer nos créditos à habitação –, significa que estaremos muito próximos de um risco de recessão para Portugal. E é isso que desejamos evitar”.

Há, por isso, esperança a médio prazo. A economia está saudável, resiliente, o desemprego não terá impacto significativo este ano, pelo que "há esperança de que 2023 seja um ano de relançamento económico real e com a capacidade de sentirmos isto no bolso das famílias e empresas a partir de setembro/outubro”.

“O desafio é o 1.º semestre. [Mas a] solução estará muito próximo desta articulação entre Governo, BdC e banca para que se consiga de forma concreta acomodar alguma necessidade de flexibilidade”, concluiu Catarina Castro na antena da SIC.

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