Economia

Quedas nos mercados não poupam criptomoedas. Bitcoin derrete metade do valor do máximo histórico

Liquidações massivas de ativos de risco da semana passada não pouparam as criptomoedas. A mais popular, a Bitcoin, está a perder mais de metade do seu valor face ao máximo histórico de novembro. Outras ‘cripto’ registam igualmente fortes perdas.

A criptomoeda mais popular está a cotar esta segunda-feira a mais de metade do valor do máximo histórico de 68 mil dólares registado no início de novembro do ano passado, uma tendência de queda que se acentuou desde o início de 2022 e que se agravou na passada semana com a desvalorização generalizada do valor dos ativos de risco, como ações e matérias-primas.

A perda de mais de 50% do valor da Bitcoin face a esse máximo histórico, cotando nos 33 mil dólares (cerca de 29 mil euros ao câmbio atual) ocorre lado a lado com fortes desvalorizações em outras criptomoedas populares como a Ether, a Cardano e a Dogecoin, que afundam esta segunda-feira face ao dólar 42%, 31%, e 27%, respetivamente, desde o início de 2022.

O que pode explicar as perdas?

O comportamento da Bitcoin imita o de ativos com mais risco, como as ações e as matérias-primas, que registaram quedas muito expressivas na passada sexta-feira, com as cotadas tecnológicas a perderem grande parte do seu valor de mercado. As liquidações massivas de sexta-feira foram resultado, de acordo com analistas, da conjugação de diversos fatores, sendo um deles a redução mais rápida do que o inicialmente previsto, dos estímulos monetários da Reserva Federal dos Estados Unidos.

O banco central norte-americano irá reduzir o volume de compras mensais, aumentar várias vezes a taxa de juro de referência em 2022 e começar a drenar a liquidez massiva dos mercados financeiros ainda este ano ao reduzir o balanço próprio, atualmente na ordem dos 7 biliões de dólares. Estas medidas de combate à inflação, cuja taxa alcançou os 7% nos Estados Unidos, em máximos de quase 40 anos, terão impacto junto do mercado acionista norte-americano, também em máximos históricos, e considerado sobrevalorizado por muitos analistas.

Na zona euro, a taxa de inflação atingiu os 5% em dezembro, com Portugal a registar a segunda menor subida dos preços, de 2,8%. As profundas assimetrias entre países são um problema para Christine Lagarde, a presidente do Banco Central Europeu, a resistir a apelos de membros como a Alemanha para regressar a uma política monetária tradicional. Berlim apresentou uma taxa de inflação de 5,3% em dezembro, um máximo de 30 anos.

Cotadas em forte perda

A Netflix, uma das grandes beneficiadas pelos confinamentos de 2020 e de 2021 da pandemia do covid-19, perdeu 21,79% do seu valor de mercado na sexta-feira, o equivalente a perto de 44 mil milhões de euros, ao apresentar um abrandamento do crescimento do número de assinantes no ano passado – e tudo apesar de ter lançado sucessos planetários como a série sul-coreana “Squid Game”.

Outras cotadas norte-americanas registaram perdas não tão pronunciadas, mas suficientes para fazer mossa. A Amazon recuou 5,95%, a Tesla perdeu 5,26%, a PayPal depreciou 5,62%, e a Zoom Video – outra grande beneficiada pela pandemia – afundou 5,23%. O índice onde todas estas cotadas negoceiam, o Nasdaq 100, perdeu 2,72% na sexta-feira e já acumula perdas de 13% desde o início do ano.

A isto somam-se a crise energética dada a escassez de gás natural nos países desenvolvidos, e tensões geopolíticas na Europa, com uma invasão da Ucrânia pela Rússia considerada como iminente pelos Estados Unidos, temendo-se um confronto bélico no coração do Velho Continente com consequências que podem ser muito pesadas em termos humanos e económicos.

Na Bitcoin, e em outras criptomoedas, variações de valor desta magnitude num tão curto espaço de tempo não são novidade: falamos de ativos digitais sem fundamentais que sustentem as valorizações, altamente ilíquidos, e vulneráveis a flutuações violentas desencadeadas por motivos esdrúxulos como atualizações de perfil de Twitter do fundador da Tesla, Elon Musk.

Porém, a Bitcoin, criada para mimetizar o padrão-ouro e para servir de contraponto às moedas fiduciárias, inflacionistas e supostamente permeáveis a influências políticas, tem falhado no propósito de servir de ativo de reserva de valor, à semelhança do metal precioso, como sugerem estas perdas avassaladoras na avaliação que o mercado faz do valor das criptomoedas.

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