Economia

Farminveste. Braço empresarial das farmácias avança com reestruturação da dívida junto dos bancos

Prazos foram dilatados para dar oxigénio à holding, cuja dívida líquida ascendia a cerca de 242 milhões de euros no primeiro semestre deste ano

Ana Sofia Santos

A Farminveste – Investimentos, Participações e Gestão (IPG), subsidiária da Farminveste SGPS, e a Associação Nacional das Farmácias (ANF) assinaram um acordo de reestruturação da dívida bancária com as principais instituições financeiras credoras das duas entidades.

A informação foi divulgada, esta quinta-feira, ao mercado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que indica que o acordo foi fechado, quarta-feira, dia 29 de setembro. A Farminveste SGPS é o braço empresarial da ANF que detém 87,75% da holding.

A operação é a concretização das negociações que estavam em curso, como é mencionado no relatório e contas da Farminveste SGPS relativo ao primeiro semestre de 2021, divulgado no início de setembro. No documento é relatado que, nesse período, a empresa registou um aumento do passivo corrente de 27 milhões de euros, “essencialmente decorrente da aproximação do período de vencimento dos empréstimos da participada Farminveste IPG e consequente passagem de parte do montante da rubrica contabilística de longo prazo para curto prazo, bem como um aumento da utilização das linhas de curto prazo por aquela participada”.

É ainda revelado que, dado o contexto e dando continuidade “ao trabalho que já vinha sendo desenvolvido, prosseguiram as negociações com os bancos tendo em vista o alargamento das maturidades dos atuais financiamentos, estando a conclusão deste processo prevista para o mês de setembro”. O que acaba de se verificar.

Nos primeiros seis meses do ano, a dívida líquida da Farminveste SGPS ascendeu aos 242,4 milhões de euros, mais cerca de 300 mil euros face ao período homólogo de 2020, indica o relatório e contas da holding.

Com o mesmo objetivo de alargamento das maturidades, assim como reduzir a dependência do financiamento bancário, “durante o primeiro semestre de 2021 iniciou-se a preparação de uma nova emissão de obrigações convertíveis em ações da Farminveste SGPS”. Trata-se de uma oferta pública de troca e subscrição no montante global de 10 milhões de euros.

83 milhões de euros negociados

De acordo com o comunicado enviado ao mercado pela Farminveste SGPS, serão reestruturados cerca de 83 milhões de euros do passivo financeiro bancário, o qual inclui 39,5 milhões de euros de linhas de curto prazo e o diferencial corresponde a produtos de médio e longo prazo.

“Do total das linhas de curto prazo, cerca de 27,5 milhões de euros serão convertidas em linhas de médio e longo prazo e, relativamente às linhas de médio longo prazo, o novo plano de amortização financeira irá prever amortizações anuais crescentes até dezembro de 2032, o que permitirá à Farminveste IPG reduzir as suas obrigações de curto prazo (12 meses) em cerca de 14,2 milhões de euros”, é explicado.

Com esta operação de alívio financeiro, o balanço da Farminveste IPG altera-se fruto da renegociação do passivo financeiro bancário de curto prazo, em 41,7 milhões de euros. O contrato também prevê que não haverá lugar à distribuição de dividendos e ao pagamento de suprimentos pela Farminveste IPG à Farminveste SGPS, até ao final de 2032, ou enquanto este acordo estiver em vigor.

A saúde financeira da Farminveste SGPS tem dado sinais de debilidade, cenário no qual pesou a crise motivada pela covid-19 e respetivo impacto nos principais negócios detidos pela holding, nomeadamente, na distribuição farmacêutica.

Líder de mercado, a Alliance Healthcare resulta de uma parceria entre a Farminveste (com a maioria do capital, traduzida numa participação de 51%) e o Grupo Walgreens Boots Aliance.

O volume de negócios da retalhista de produtos farmacêuticos reduziu-se em 2,8 milhões de euros no primeiro semestre do ano, para 326,3 milhões de euros. “Comparativamente com igual período do ano anterior, verificou-se um decréscimo das vendas de 0,9% resultante, essencialmente, do facto do primeiro trimestre de 2021 ter sido, também, um trimestre de confinamento devido à pandemia, comparativamente com o semestre homólogo, impactando em particular os clientes em superfícies comerciais que se mantiveram encerradas”, sinalizam as contas da Farminveste sobre a operação do seu ativo mais importante.

João Cordeiro duvida das contas

Recorde-se que as contas da ANF estiveram recentemente na berlinda, fruto de acusações de má gestão por parte de João Cordeiro, um dos fundadores da associação e que a liderou durante 30 anos, tendo sido sucedido no cargo por Paulo Cleto Duarte, que foi por si indicado, em 2013.

Porém, as relações entre os dois ter-se-ão degradado, uma vez que o histórico líder das farmácias veio a público questionar a gestão financeira da ANF e das suas empresas. Entretanto, depois do episódio, Paulo Cleto Duarte demitiu-se e nas eleições antecipadas, em maio, saiu vencedora a nova presidente Ema Paulino.

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