Economia

Crise no BES tornou "imperativa e inadiável" a intervenção, diz BdP

Os problemas no BES, agravados desde a apresentação  de prejuízos semestrais de 3,6 mil milhões de euros, tornaram "imperativa  e inadiável" a intervenção do regulador, lê-se na ata do Banco de Portugal  divulgada por uma sociedade de advogados. 

Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa (Reuters/Arquivo)
REUTERS

A informação pode ler-se na ata da reunião extraordinária do Conselho  de Administração do Banco de Portugal (BdP) do passado domingo, no dia em  que foi anunciado o resgate ao BES, e que foi divulgada na página na internet  da sociedade de advogados Miguel Reis & Associados.  

A Lusa contactou uma fonte oficial do Banco de Portugal, que preferiu  não comentar o assunto. 

No documento datado de 03 de agosto, e que cujas folhas estão todas  rubricadas, é feito o relato da situação do banco centenário e que levou  ao fim da instituição no passado fim-de-semana, tal como era conhecida.

Segundo o Banco de Portugal, foram vários os factos que se cruzaram  e que puseram o BES "numa situação de risco sério e grave de incumprimento  a curto prazo das suas obrigações", que tornou "imperativa e inadiável"  encontrar uma solução que, ao mesmo tempo, protegesse os depositantes e  evitasse o "efeito sistémico" que poderia ser desencadeado pelo incumprimento  de um dos maiores bancos portugueses. 

O Banco de Portugal inicia o relato pelos prejuízos de 3,6 mil milhões  de euros que o BES apresentou no primeiro semestre, ainda referentes à gestão  de Ricardo Salgado, e que incluíam perdas de 1.500 milhões de euros que  o BdP atribui a atos praticados "num momento em que a substituição da anterior  administração estava já anunciada". 

A isso somou-se, segundo o supervisor, o "grave incumprimento" dos requisitos  mínimos de fundos próprios, com rácios de capital abaixo dos exigidos, e  a comunicação que o BES fez ao regulador a 31 de julho (quinta-feira) a  dar conta da "impossibilidade" de realizar um aumento de capital nos termos  e prazos combinados. 

Ao mesmo tempo, o BES vivia uma "situação de grave crise de liquidez"  que já o tinha forçado a recorrer às linhas de emergência, refere a entidade  liderada por Carlos Costa.  

A 01 de agosto, sexta-feira, o conselho de governadores do BCE contribuiu  para forçar uma intervenção no BES ao suspender o acesso do BES às suas  linhas de financiamento, obrigando-o a reembolsar os 10 mil milhões de euros  contraídos em crédito junto do Eurosistema, tornando "insustentável" a situação  do banco então já liderado por Vítor Bento. 

Segundo a ata, foram estes os factos que colocaram o BES "numa situação  de risco sério e grave" e que tornaram uma intervenção "imperativa e inadiável".

Assim, na noite de domingo 03 de agosto, em reunião extraordinária,  o governador, Carlos Costa, os vice-governadores Pedro Duarte Neves e José  Ramalho e os administradores José Silveira Godinho e João Amaral Tomaz reuniram-se  para discutir a constituição do Novo Banco; a designação dos ativos e passivos  considerados não problemáticos a transferir do BES para aquela instituição;  a designação da entidade independente para avaliar o que é transferido para  o Novo Banco; a nomeação dos membros dos órgãos de administração e fiscalização  do BES. 

No documento, é dito que as medidas tomadas nessa reunião têm o objetivo  de salvaguardar a "solidez financeira do BES e o interesse dos seus depositantes"  e de garantir "a manutenção da estabilidade do sistema financeiro português",  pelo que as deliberações tomadas foram consideradas "urgentes" e, portanto,  "não havendo lugar a audiência prévia dos interessados". 

Lusa

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