Desporto

Benfica precisa de quatro Gyökeres

Opinião de João Rosado. O que Rui Costa tem gasto no mercado e o que tem ganho faz voar o Sporting.

Armando Franca

João Rosado

Como várias vezes aconteceu dentro de campo, fora dele também há um Gyökeres que alarga o sorriso de Frederico Varandas e obriga Rui Costa a colocar uma máscara para esconder a desilusão.

Levando em consideração aquilo que a SAD do Sporting comunicou a 15 de novembro de 2023 à CMVM, o melhor artilheiro das últimas duas temporadas da Liga começou por implicar um gasto de 20 milhões de euros, negociados com o Coventry mediante a possibilidade de o acordo contemplar um acréscimo de mais quatro milhões.

A verba inicial que saiu de Alvalade para garantir o ingresso do internacional sueco, em números redondos, espelha o custo que cada troféu leonino teve nas últimas quatro temporadas, ou seja, durante o período em que se pode comparar uma presidência com a outra.

O penálti convertido por Gyökeres no último minuto do tempo de descontos no Jamor contribuiu fortemente para o quinto título festejado desde a época 2021-2022, a que coincidiu com a destituição de Luís Filipe Vieira no Benfica e a subida ao poder do seu antigo diretor desportivo.

Durante esta fase de mano a mano na Segunda Circular, os bicampeões nacionais gastaram em aquisições, segundo dados do “Transfermarkt”, qualquer coisa como 271,31 m€, com a particularidade de existir uma diferença redonda de 20 milhões (mais um Gyökeres...) entre o investimento de 2021-22 (39,75 m€) e o canalizado em 2024-25 para atacar o bicampeonato (59,84 m€).

Face a outra particularidade muito mais... generalista, a gestão do futebol não se compadece apenas com o que se compra e o quanto se compra. Existe uma relação óbvia com as verbas resultantes das vendas dos principais ativos, pois nem sempre um clube, por mais rico que seja, consegue colmatar na porta de entrada a riqueza da matéria-prima que entretanto fluiu pela porta de saída. Se as SADs tivessem somente a preocupação de trocar peça por peça e os campeonatos fossem decididos na mesa de matraquilhos, qualquer um podia ser o empregado do ano em qualquer departamento financeiro.

Assim, para se ter uma noção clara do grau de sucesso da administração Varandas, é preciso levar em conta os 322,40 m€ que entraram nos cofres no referido período e que conduziram a uma fatura, no plano desportivo, traduzível na despedida de internacionais da estirpe de Nuno Mendes, Matheus Nunes, João Palhinha, Manuel Ugarte ou Pedro Porro.

Varandas de luxo

O saldo apurado entre o que se vendeu e o que se comprou, no capítulo estritamente financeiro, denuncia um lucro superior a cem milhões de euros (em concreto, 105,09 m€), o que significa que, em cada uma das últimas quatro épocas, os leões lucraram uma média de 26,27 m€, valor um pouco superior aos 21,01 m€ que refletem o custo de cada um dos cinco troféus depositados no

museu. Este preço Gyökeres, enfim, um Gyökeres um pouco mais gordo atendendo ao original, resulta, sublinhe-se, da tal distribuição dos cinco títulos pelos 105,09 m€ que situam o lucro verde e branco (322,40 em vendas contra os 271,31 em compras), para os adeptos visível na Supertaça de 21-22, na Taça da Liga de 21-22, nos campeonatos de 23-24 e 24-25 e na Taça de Portugal de 24-25. No fundo, é a relação entre o montante que sobrou do mercado e as taças erguidas que mostra o que conseguiu ou não fazer com o dinheiro.

Atravessando a Segunda Circular, os números, na área específica das vendas, quase disparam para o dobro. Entre 2021-22 e 2024-25, o Benfica encaixou perto de 600 milhões de euros, com rigor, 598,62 m€. Atletas da reputação de Enzo Fernández, Darwin Nuñez, Gonçalo Ramos e João Neves permitiram um encaixe brutal considerando a realidade doméstica.

A outra face da moeda mostrou um sinal um pouco mais encarnado, com as águias a gastarem “somente” 315,65 m€ em reforços, apurando-se então um lucro de 282,97 m€, à razão de um saldo positivo de 70,7m€ por época. Uma vez que neste ciclo há registo de três títulos expostos no Cosme Damião (o campeonato de 22-23, a Supertaça de 23-24 e a Taça da Liga de 24-25), pode-se considerar que cada troféu na Luz implicou uma despesa de 94,32 m€, substancialmente mais do que o suportado pelos eternos rivais.

E com esta lógica a alargar-se às últimas sete épocas, na prática até à data da entrada em funções de Frederico Varandas, a relação entre o que se gasta e o que se ganha continua a ser desfavorável aos dirigentes da Luz. Face aos nove troféus do Sporting, cada um “vale” 29,5 m€, enquanto os cinco do Benfica representam um “peso” de 94,11 m€.

Recuando até 2018-19, poder-se-ia interpretar que o Sporting gasta 1/3 e ganha quase o dobro, na linha do que se verifica quando o quadro comparativo começa em 2021. Só considerando o tempo em que Varandas e Rui Costa coincidem na cadeira mais alta das respetivas hierarquias, os vice-campeões tiveram por troféu um custo (os tais 94,32 m€) quatro vezes superior (na verdade, 4,4) ao dos leões (os tais 21,01 m€).

São quatro Gyökeres ao preço de origem. Dava imenso jeito ao Benfica descobri-los a todos.

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