Desporto

O jornalista que manda nisto tudo

Opinião de João Rosado. Fabrizio Romano destaca-se pelas notícias em primeira mão no mercado de transferências e qualquer dia ainda é visto como reforço para um grande clube.
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João Rosado

Se fosse futebolista profissional, não teria preço. Ou melhor, não teria preço para a maior parte dos clubes, mesmo os mais endinheirados da Europa. Provavelmente, só os sauditas conseguiriam bater a cláusula de rescisão de Fabrizio Romano, o nome mais citado no universo da informação desportiva e aquele que regula a agitação no mercado de jogadores.

É rara a notícia sobre uma transferência que não tenha a assinatura do jornalista italiano, alguém que se tornou uma espécie de Rui Pinto, diferenciando-se da concorrência pelo formidável acesso a dados de robusta confidencialidade.

De tal forma o conteúdo se revela exclusivo que em certos casos até é difícil perceber onde começa a realidade e acaba o tratamento editorial. Quase dá a impressão de que se uma determinada equipa não formalizou uma determinada operação, a partir do momento em que Fabrizio a denuncia... está consumada.

Com milhões de seguidores nas redes sociais, este playmaker do jornalismo é uma das principais fontes das redações de todo o Mundo, e das maiores estrelas às personagens de menor expressão galáctica, na prática todas têm uma cotação influenciada pela maneira como tem trabalhado a arte da primeira mão.

Dando foco, como é natural, às negociações que envolvem os craques que decidem os acontecimentos dentro de campo, Romano também dedica um espaço especial aos treinadores de topo, o que significa que aquilo que tem que ver com os pilares que sustentam a performance está constantemente debaixo de investigação.

Graças a exemplar elaboração de uma teia de contactos que do exterior ninguém consegue dimensionar com clareza, o homem mais bem informado do futebol faz as agendas internacionais e, na posse dos segredos que para outros são imperscrutáveis, estabelece um poder sem fronteiras.

Simplificando, Fabrizio Romano tanto pode revelar-se um aliado de peso como um sério inconveniente para os emblemas que estão sempre dependentes do que vendem e do que compram. Uma informação divulgada na hora errada e fora do contexto idealizado pelos presidentes e pelos diretores desportivos pode, com a maior das facilidades, deitar por terra um negócio de monta, da mesma forma que a propagação de um interesse num determinado alvo ajudará, em certas circunstâncias, a subir a parada e a colocar as negociações noutro patamar.

Claro que algumas estruturas estão habituadas a movimentarem-se neste terreno que também é adubado pelas especulações, mas não é possível comparar o controlo e a filtragem comunicacional exercidos no passado com estes dias em que qualquer spin doctor se vê ultrapassado pela velocidade de conhecimento evidenciada por uma máquina de fazer manchetes.

Até os mais astutos empresários foram obrigados a render-se ao melhor agente de todos eles, aquele que obriga a um tratamento privilegiado e a uma deferência à razão da importância dos biliões gastos nas transferências.

Já fotis, Mateus…

Sem rival à altura no campeonato noticioso, o italiano que deu os primeiros passos à sombra do compatriota Gianluca Di Marzio só ainda não se fez à estrada no mapa do recrutamento de atletas. É bem provável que ele próprio, mais dia menos dia, seja resgatado na qualidade de reputado influencer e ajude a tomar as decisões certas no tempo certo, poupando alguns técnicos a embaraçosos equívocos.

Só no grupo de elite da Liga portuguesa, Fabrizio teria muito com que se entreter. O Sporting, enquanto reza para Gyokeres (não) ser vendido por 100 milhões de euros, parece hesitar entre perfis algo diferentes no campo de uma alternativa ao sueco. Fotis Ioannidis encabeça a strike list de Rúben Amorim e logo a seguir surge o jovem (19 anos) Vitor Roque, um ano mais novo que o promissor Mateus Fernandes, surpreendentemente anunciado como reforço do Southampton assim que terminou a goleada ao Nacional da Madeira.

Um pouco à semelhança das transferências que Luís Filipe Vieira e Jorge Mendes acertaram no Seixal na era de Bernardo Silva, João Cancelo, Ivan Cavaleiro, Hélder Costa ou André Gomes, os atuais campeões nacionais, a troco de 15 milhões de euros, despacharam um dos médios que mais prometiam e que tanto se destacou num Estoril que forneceu em janeiro Koba Koindredi aos leões por 4,2 milhões de euros.

A menos que Mateus desminta na Premier League o grande talento que sugere, a negociação com os ingleses pelo montante referido é escasso e priva Amorim de uma ótima solução para o banco, sobretudo levando em consideração as várias frentes competitivas. Em piores lençóis financeiros está o FC Porto, e André Villas-Boas teve ocasião de avisar a Juventus que nem Conceição (o Francisco, claro) nem Galeno estão em saldo, o que também foi mais fácil de dizer depois de o ex-benfiquista Tiago Pinto ter operacionalizado a mudança de Evanilson para o Bournemouth por 45 milhões de euros.

Diretor-geral dos encarnados durante três anos (de 2017 a 2020), Tiago Pinto, na última temporada em Lisboa, ainda participou na venda astronómica de João Félix ao Atlético Madrid (127 milhões de euros) e nas contratações de Raúl de Tomás e Carlos Vinícius, dois pontas de lança que tiveram um rendimento bastante distinto. É verdade que o brasileiro não convenceu Marco Silva (se é que convenceu alguém depois de deixar as águias), mas face às indefinições que grassam na Luz talvez o dianteiro canhoto fosse nesta altura uma arma a considerar por Roger Schmidt.

No fundo, era recuperar Vinícius como Schmidt dá a ideia de ter recuperado outro Tiago, o Gouveia. E quando o “milagre” acontece com a prata da casa, isso não tem preço. Quando era... romano em Roma junto de José Mourinho, Tiago Pinto sabia isso tão bem como o imperador Fabrizio.

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