Desporto

É possível ganhar com elegância e perder com classe

É por esta altura, a do "tudo ou nada", que cresce a ansiedade, a intolerância e impaciência. Agentes e adeptos querem alcançar as suas metas desportivas e financeiras, o que regra geral significa menor encaixe e lucidez em relação às inúmeras variáveis do jogo.

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Duarte Gomes

Faltam sete jornadas para o fim da Primeira Liga e está tudo em aberto: não há campeão definido, não há equipas despromovidas e não se sabe ao certo quem irá apurar-se para as competições europeias da próxima época.

A matemática (a dos pontos conquistados e dos pontos que faltam) permite especular sobre probabilidades, mas essas valem o que valem num fenómeno tão imprevisível como o futebol.

É por esta altura, a do "tudo ou nada", que cresce a ansiedade, a intolerância e impaciência de quem anda lá dentro. Agentes desportivos e adeptos querem alcançar as suas metas desportivas e financeiras, o que regra geral significa menor encaixe e lucidez em relação às inúmeras variáveis do jogo.

É por esta altura, a do "tudo ou nada", que valerá a pena deixar novo apelo à contenção, à serenidade e, acima de tudo, ao saber-estar.

Ouço reiteradamente alguns treinadores e jogadores afirmarem que a sua profissão é desgastante, que é medida em função dos resultados e que, em qualquer altura, pode deixá-los no desemprego.

Têm razão, têm toda a razão.

Mas infelizmente o mundo da bola funciona da mesma forma também para os árbitros, esses ainda mais sujeitos a pressões que ultrapassam, tantas e tantas vezes, o limite do razoável.

Se é verdade que um treinador pode ser dispensado por maus resultados e um jogador por más exibições, também é verdade que um árbitro pode ser despromovido ou afastado por más classificações. E se é verdade que o adepto enfurecido exige a cabeça do técnico enquanto agita lenços brancos, também é verdade que o mesmo adepto lança pedras, isqueiros, moedas e garrafas de água na direção de quem arbitra jogos.

Sejamos claros: no futebol não há vítimas maiores ou menores. Há pessoas que escolheram voluntariamente uma carreira e que infelizmente sofrem os danos colaterais inerentes à tremenda irracionalidade que ela acarreta.

É injusto? Claro que é. É perverso? Sim, muito. Mas é como é, pelo menos enquanto não se encontrar forma eficaz de educar os mais desrespeitosos, garantindo que quem se porta como criminoso não tenha lugar no desporto.

Num cenário de tanta tensão e adversidade emocional e sobretudo nesta fase mais decisiva, parece-me que o melhor é que todos se dediquem ao mais importante, que é tentarem controlar as variáveis que dependem de si: os dirigentes estão para dirigir, os treinadores para treinar, os jogadores para jogar e os árbitros para arbitrar.

Quanto maior for o foco, compromisso e dedicação à tarefa, melhor serão os desempenhos e resultados. E quanto menor for o desgaste em relação às circunstâncias que não dependem deles, àquilo que os outros fazem, dizem ou pensam, maior será a possibilidade de sucesso.

Dizia um atleta conhecido que o momento em que um velocista perde o a corrida é aquele em que tira os olhos da meta para ver onde estão os adversários.

Numa prova que dura nove meses e atravessa as quatro estações do ano, ganha quem for mais forte e consistente.

Pode o mundo inteiro juntar-se em queixas sucessivas e alinhar em processos de vitimização, perseguição ou lamento constante. Esta é uma verdade inabalável e até o próprio adepto, aquele que embarca na raiva momentânea, consegue vê-lo com a devida distância.

Quanto mais longe estiverem as pessoas de acreditar nisso, mais distantes estarão do seu próprio sucesso.

Calma, tranquilidade, respeito mútuo e fairplay. É possível ganhar com elegância e perder com classe.

Lembrem-se: só um pode ganhar em maio. A boa notícia é que em agosto começa tudo de novo.

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