Polígrafo SIC Europa

Portugal é o quinto país da União Europeia com mais assaltos?

Em 2019, as autoridades portuguesas registaram 10.926 roubos nas diversas formas. Mas em 2020 estas ocorrências baixaram 17,8%.

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SIC Notícias

Numa publicação no Twitter, afirma-se que “Portugal é o quinto país com mais assaltos por ano, o índice que o primeiro-ministro tanto gosta de mostrar está relacionado com possíveis guerras ou golpes de estado daí o nome Global Peace Index”.

Ora, será verdade que Portugal é o quinto país da União Europeia com mais assaltos, o que contradiz o “Global Peace Index”?

As afirmações do primeiro-ministro sobre este índice já foram verificadas pelo Polígrafo. No debate sobre o Estado da Nação, no Parlamento, António Costa, em resposta ao deputado André Ventura, afirmou que “em 2015, Portugal era classificado como o 11º país mais seguro do mundo. Hoje felizmente é considerado o quarto país mais seguro do mundo”. Tal como foi avaliado, na altura, é verdade que o relatório “Global Peace Index 2021” do Institute for Economics & Peace coloca Portugal no 4º lugar no pódio de países mais seguros do mundo, logo depois da Islândia, Nova Zelândia e Dinamarca.

Apesar de a intervenção do primeiro-ministro ser verdadeira, segundo os dados do Eurostat, Portugal foi entre 2017 e 2019 o terceiro país da União Europeia com mais assaltos e não o quinto, como afirma a publicação. No gráfico, Portugal está apenas atrás da Bélgica e de Espanha na média de assaltos relatados às autoridades por cem mil habitantes. O país teve uma média de cerca de 108 assaltos por cem mil habitantes entre 2017 e 2019.

Ao Polígrafo SIC/Europa, o gabinete do secretário-geral do sistema de segurança interna explica que “não existe uma contradição, na comparação dos indicadores apresentados, uma vez que as fontes e os métodos utilizados são muito diferentes. Os dados do Eurostat fazem uma média dos roubos registados nos anos 2017 a 2019 por 100.000 habitantes (aproximadamente 107,4), o que, quando comparado com os restantes países, coloca Portugal em 3º lugar. Já os dados do “Global Peace Índex”, os quais colocam Portugal como um dos países mais seguros do mundo, aplica critérios muito diferentes. Este índice baseia-se em 23 indicadores para calcular o nível de segurança, nomeadamente, as três grandes categorias ‘conflitos internacionais e domésticos em curso’, ‘segurança e proteção da sociedade’ e ‘militarização’. Estas categorias subdividem-se em número de conflitos violentos, externos e internos, níveis de confiança, instabilidade política, probabilidade de ocorrência de atos terroristas, número de homicídios e despesa militar em percentagem do PIB, entre outros”.

Segundo o “Relatório Anual de Segurança Interna – Ano 2020” (RASI), em 2017 foram relatados mais de 11 mil crimes de roubo, nas diversas formas. Em 2018, houve um decréscimo para 10.545 crimes desta natureza, mas em 2019 o número de incidentes aumentou 3,6% - houve 10.926 crimes de roubo. Em 2020, houve novamente uma diminuição de 17,8%, passando para 8.976 crimes de roubo nas diversas formas.

Sobre estes valores o gabinete do secretário-geral do sistema de segurança interna afirma que “parece-nos relevante frisar que a tendência observada em Portugal, na última década, é de decréscimo, tanto dos níveis globais de criminalidade como dos níveis mais especificamente da criminalidade violenta. Contudo, não obstante esta trajetória favorável dos indicadores, a segurança continua a ser um dos pilares da nossa sociedade e como tal merecedora de uma atenção e análise constante”.

Em suma, é verdade que Portugal figura nos países da União Europeia com mais assaltos. Não está no quinto lugar como diz a publicação, mas sim em terceiro lugar. Não obstante, a comparação direta entre estes dados e o “Global Peace Index” não pode ser feita, já que são avaliados indicadores diferentes. Além disso, os dados do Eurostat são referentes a 2019. Em 2020, segundo o RASI, os crimes de roubo desceram 17,8%, o que mostra que, atualmente, a tendência de crimes desta natureza está a baixar, ou seja, os dados de 2020 podem colocar o país num lugar mais satisfatório na base de dados Eurostat.

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