Fernando Matias
78 anos
Amadora
Hoje, por aqui, está um dia lindo, daqueles bem provocadores, que te desafiam a sair do buraco e a dar um bom passeio. Mas não pode ser. Como tantos outros idosos, continuamos, a minha mulher e eu, a cumprir o confinamento a que nos obrigam a lei e o bom senso nesta luta contra a maldita covid 19.
Não está fácil, até pela relação pouco amistosa que tenho com o sofá e a TV.
Ajuda-me o gosto pela bricolage na garagem onde vou encontrando sempre algo para fazer. Assim, vou passando os longos dias num constante sobe e desce entre a cozinha e a garagem, com o humor em modo" montanha russa".
Esta clausura e o distanciamento social que nos colocam a falar com netos e filhos da varanda para a rua chegam a ser desesperantes, mas ceder não é opção.
Quando o stress aperta, penso nos que estão na linha da frente desta luta correndo os maiores riscos; esses sim são os nossos verdadeiros heróis: trabalhadores da saúde/de serviços essenciais/voluntários; para eles o meu reconhecimento e gratidão.
Com o anunciado retorno a alguma atividade, há quem pense que o pior já passou e tende a baixar a guarda.
Não tenhamos ilusões: este retorno ao trabalho, inevitável e urgente certamente, vai aumentar substancialmente os casos de contágio.
Temos assim que continuar o confinamento e as medidas que têm vindo a conseguir evitar uma tragédia de maiores proporções.
Se não conseguirmos manter esta pandemia em níveis suportáveis pelo nosso Sistema de Saúde, corremos o sério risco de entrar numa espiral que rapidamente nos poderá levar para um situação idêntica a outras que bem conhecemos. Nós, por aqui, continuaremos em casa.
...e agora vou bricolar. A minha mulher lembrou-me que aquela pequena estatueta que caiu ao chão, ficou sem uma orelha .Que tal oferecer- lhe uma orelha nova? É sim.
É preciso calma/melhores dias virão.
A todos os confinados
Aquele abraço