Fidel Castro 1926-2016

Futuro da economia nas mãos de Raul Castro e Donald Trump

Cuba recebe a morte de Fidel Castro mergulhada numa "atualização" da sua economia socialista, ainda com resultados que são uma incógnita, e na expectativa sobre o impacto da Presidência de Donald Trump no reatamento das relações com os EUA.

Nos últimos anos, o histórico líder cubano, que converteu a ilha cubana num aliado da então União Soviética e que declarou o socialismo no país como irreversível, assistiu ao plano de abertura económica desenhado pelo seu irmão no poder, Raul Castro, apresentado para garantir a sobrevivência de uma revolução que sempre teve na economia o seu 'elo mais fraco'.

De acordo com a análise feita pela agência espanhola de notícias, Efe, quando em 1959 os 'barbudos' liderados por Fidel Castro derrotaram o ditador Fulgencio Batista, Cuba era um país com enormes desigualdades sociais e com uma elite enriquecida pelo negócio do açúcar com as multinacionais norte-americanas.

No entanto, "acabaram-se as desigualdades, chegou o comandante e mandou acabar", reza a canção de Carlos Puebla, dando conta dos efeitos da lei da reforma agrária e da nacionalização das propriedades norte-americanas, que foram das primeiras medidas económicas mais importantes tomadas depois do triunfo da Revolução.

Em 1961, no seguimento do fracasso da invasão contra Castro da Baía dos Porcos, o 'comandante' proclama o caráter socialista da revolução e define como grande inimigo ideológico o imperialismo norte-americano.

Cuba assume-se, em pleno contexto de Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, como um satélite nas Caraíbas, e graças a isso recebeu durante três décadas mais de 20 mil milhões de dólares, que permitiram à população viver de forma próspera até ao final dos anos 80.

Com a queda do muro de Berlim e o colapso soviético, Cuba ficou "com as calças na mão", e foi "como se o sol deixasse de brilhar", reconheceu o próprio Fidel anos depois, sobre o impacto do acontecimento na economia cubana.

A forte dependência do financiamento de Moscovo ficou a olho nu, e a economia sofreu uma contração de 40%, que fez chegar a difícil época do "período especial" de escassez generalizada, numa crise traumatizante que marcou várias gerações de cubanos.

Fidel foi obrigado a abrir a ilha ao turismo internacional, ao investimento externo, ao dólar e às remessas, para evitar o colapso total da frágil e isolada economia.

Depois da União Soviética, Cuba beneficiou, no princípio dos anos 2000, de uma nova aliança estratégica sob a forma de ajuda externa: 100 mil barris de petróleo da Venezuela, que chegava à ilha para pagar serviços médicos, educativos e desportivos.

Os anos mostraram que o modelo não funcionou, e já com Fidel Castro retirado do poder, o seu irmão começa uma "batalha económica" para salvar um país que oferece um salário médio de 20 dólares mensais, tem 1,8 milhões de hectares agrícolas por cultivar e enfrenta graves problemas energéticos, de tesouraria e de transporte, entre outros.

A iniciativa privada passou a ser permitida, embora a generalidade das empresas ainda tenha caráter socialista, e pequenos negócios conhecidos como "microempresas" começaram a florescer, como ginásios, restaurantes, oficinas de reparação e salões de beleza, conta a agência Efe.

A redução do planeamento estatal, a eliminação dos subsídios 'paternalistas', o aperfeiçoamento da empresa estatal, a autorização de empresas privadas e o projeto de eliminação do complexo sistema de dupla moeda são outras das medidas da 'atualização' de Cuba que Raul Castro está a levar a cabo e que já melhoraram ligeiramente a vida dos cubanos.

Argumentando com a necessidade de angariar capital para conseguir um "socialismo sustentável", Raul Castro apostou na captação de investimento externo com a criação do porto de Mariel e da primeira zona especial de desenvolvimento do país.

Os analistas convergem na ideia de que as reformas de Raul Castro são as mais importantes realizadas em Cuba durante a sua revolução, mas muitos também criticam a lentidão e o excessivo gradualismo num país que tem na deficiência económica um dos seus principais problemas.

O anúncio do restabelecimento das relações comerciais com os Estados Unidos fez disparar as expectativas sobre um novo período de prosperidade económica, fruto da aceleração das reformas de Castro e da flexibilização impulsionada por Barack Obama, mas a Presidência de Trump, abertamente contra o processo, cobre o processo de incerteza, sendo que o embargo comercial contra a ilha ainda se mantém.

Lusa

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