Benfica Campeão 2013/2014

Entre amores e ódios, Jesus reabilitou-se para reerguer Benfica 

Capaz de suscitar amores e ódios, de estilo  agressivo e muitas vezes inflexível, o treinador Jorge Jesus voltou a colocar  o Benfica no topo do futebol português, no seu segundo título de campeão  em cinco épocas. 

Na memória de muitos está o último ano, com o técnico, tantas vezes  acusado de ser arrogante, ajoelhado no Estádio do Dragão (vergado a uma  derrota por 2-1 e perda da liderança), numa época em que tinha a hipótese  de ganhar quase tudo e tudo perdeu. 

Mas, teve mais uma oportunidade, muito por culpa do presidente do Benfica,  Luís Filipe Vieira, que insistiu na sua continuidade, quando muitos já lhe  mostravam a porta de saída (sempre com o espetro de que o técnico seria  desejado no Dragão). 

E as coisas nem começaram bem: iniciou a quinta época de forma titubeante,  perdeu uma vez mais na estreia e teve cinco pontos de atraso para o rival  FC Porto, mas, passo a passo, também com demérito dos rivais, reergueu-se  e voltou a ser temido. 

O treinador, de quem muitos pediam a cabeça (depois de em 2013 ter perdido  sobre a "meta" o campeonato, a Taça e a Liga Europa), não se deixou abalar  e continuou a mostrar a razão pela qual o Benfica é muito mais competitivo  sob o seu comando. 

Em 2009/10, na sua estreia, foi implacável e deu o campeonato ao Benfica,  numa equipa com "nota artística", em que mais ou menos todos se renderam  ao futebol dos "encarnados", cumprindo o que prometera: "Comigo, a equipa  vai jogar o dobro". 

Mesmo sem vencer nas três épocas seguintes, o Benfica, de Jesus, foi  muito melhor do que os antecessores, e, quatro anos volvidos, repetiu o  título, com uma equipa menos vistosa, mas igualmente poderosa coletivamente.

Jesus, contratado ao Sporting de Braga por 700.000 euros, manteve o  estilo exuberante, sempre com os nervos à flor da pele, em agitação junto  à relvado, mas mais maduro e racional, numa época em que soube gerir o plantel  melhor do que nunca. 

Quase a completar a quinta época consecutiva na Luz, o treinador devolveu,  de facto, ao Benfica a capacidade de jogar, de ser competitivo, de lutar  por vários objetivos até ao final e não ficar pelo caminho após meia dúzia  de jornadas. 

Outro dos seus grandes méritos foi ter sido capaz de tirar o melhor  dos jogadores: "reabilitou" Aimar, contou com Saviola, assistiu à melhor  época de Di Maria, "inventou" Fábio Coentrão a lateral esquerdo e fez de  Enzo Perez um médio de excelência. 

Jesus mostrou também sempre ser um especialista da tática e um técnico  capaz de descobrir soluções permanentes com os recursos que teve ao dispor,  tornando o plantel de cada época um manancial de opções. 

Outro grande mérito, nas apostas que fez, foi conseguir potenciar os  jogadores como ativos do clube, com o Benfica a vender, a preço de ouro,  Di Maria e Fábio Coentrão (Real Madrid), Ramires, David Luiz e Matic (Chelsea),  Javi Garcia (Manchester City) e Witsel (Zenit). 

Foram muitos os heróis, num percurso em que o técnico também teve os  seus equívocos: como Emerson (2011/12) e Bruno Cortez (já esta época) para  o lado esquerdo da defesa, ou os avançados Kardec (emprestado ao Palmeiras)  e Franco Jara (emprestado ao Estudiantes), além do guarda-redes espanhol  Roberto. 

Na presente temporada, a fórmula de sucesso foi a equipa, o coletivo,  embora na base tenha contado com o eixo Garay-Luisão, com Enzo Perez, Gaitán  e Markovic (transformado em ala face à lesão de Sálvio), e com a dupla Lima  e Rodrigo. 

Jesus passou a somar cinco títulos (dois campeonatos e três Taças da  Liga), e pode fazer crescer o espólio, pois o Benfica está na final da Taça  de Portugal e nas "meias" da Liga Europa e da Taça da Liga. 

Na Europa, o técnico apenas passou uma vez a fase de grupos da "Champions"  -- chegou aos "quartos" em 2011/12, mas, na Liga Europa, esteve nos "quartos"  (2009/10), nas "meias" (2010/11) e numa final (2012/13), a primeira do Benfica  desde 1990. 

Jesus tem deixado marca no clube, num momento em que tem mais um ano  de contrato e é, desde que Otto Glória serviu as "águias" entre 1954 e 1959,  o treinador com mais tempo à frente da equipa, num projeto que nem sempre  deu os resultados esperados, mas voltou a fazer do Benfica uma equipa entusiasmante.

Lusa

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