Na memória de muitos está o último ano, com o técnico, tantas vezes acusado de ser arrogante, ajoelhado no Estádio do Dragão (vergado a uma derrota por 2-1 e perda da liderança), numa época em que tinha a hipótese de ganhar quase tudo e tudo perdeu.
Mas, teve mais uma oportunidade, muito por culpa do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que insistiu na sua continuidade, quando muitos já lhe mostravam a porta de saída (sempre com o espetro de que o técnico seria desejado no Dragão).
E as coisas nem começaram bem: iniciou a quinta época de forma titubeante, perdeu uma vez mais na estreia e teve cinco pontos de atraso para o rival FC Porto, mas, passo a passo, também com demérito dos rivais, reergueu-se e voltou a ser temido.
O treinador, de quem muitos pediam a cabeça (depois de em 2013 ter perdido sobre a "meta" o campeonato, a Taça e a Liga Europa), não se deixou abalar e continuou a mostrar a razão pela qual o Benfica é muito mais competitivo sob o seu comando.
Em 2009/10, na sua estreia, foi implacável e deu o campeonato ao Benfica, numa equipa com "nota artística", em que mais ou menos todos se renderam ao futebol dos "encarnados", cumprindo o que prometera: "Comigo, a equipa vai jogar o dobro".
Mesmo sem vencer nas três épocas seguintes, o Benfica, de Jesus, foi muito melhor do que os antecessores, e, quatro anos volvidos, repetiu o título, com uma equipa menos vistosa, mas igualmente poderosa coletivamente.
Jesus, contratado ao Sporting de Braga por 700.000 euros, manteve o estilo exuberante, sempre com os nervos à flor da pele, em agitação junto à relvado, mas mais maduro e racional, numa época em que soube gerir o plantel melhor do que nunca.
Quase a completar a quinta época consecutiva na Luz, o treinador devolveu, de facto, ao Benfica a capacidade de jogar, de ser competitivo, de lutar por vários objetivos até ao final e não ficar pelo caminho após meia dúzia de jornadas.
Outro dos seus grandes méritos foi ter sido capaz de tirar o melhor dos jogadores: "reabilitou" Aimar, contou com Saviola, assistiu à melhor época de Di Maria, "inventou" Fábio Coentrão a lateral esquerdo e fez de Enzo Perez um médio de excelência.
Jesus mostrou também sempre ser um especialista da tática e um técnico capaz de descobrir soluções permanentes com os recursos que teve ao dispor, tornando o plantel de cada época um manancial de opções.
Outro grande mérito, nas apostas que fez, foi conseguir potenciar os jogadores como ativos do clube, com o Benfica a vender, a preço de ouro, Di Maria e Fábio Coentrão (Real Madrid), Ramires, David Luiz e Matic (Chelsea), Javi Garcia (Manchester City) e Witsel (Zenit).
Foram muitos os heróis, num percurso em que o técnico também teve os seus equívocos: como Emerson (2011/12) e Bruno Cortez (já esta época) para o lado esquerdo da defesa, ou os avançados Kardec (emprestado ao Palmeiras) e Franco Jara (emprestado ao Estudiantes), além do guarda-redes espanhol Roberto.
Na presente temporada, a fórmula de sucesso foi a equipa, o coletivo, embora na base tenha contado com o eixo Garay-Luisão, com Enzo Perez, Gaitán e Markovic (transformado em ala face à lesão de Sálvio), e com a dupla Lima e Rodrigo.
Jesus passou a somar cinco títulos (dois campeonatos e três Taças da Liga), e pode fazer crescer o espólio, pois o Benfica está na final da Taça de Portugal e nas "meias" da Liga Europa e da Taça da Liga.
Na Europa, o técnico apenas passou uma vez a fase de grupos da "Champions" -- chegou aos "quartos" em 2011/12, mas, na Liga Europa, esteve nos "quartos" (2009/10), nas "meias" (2010/11) e numa final (2012/13), a primeira do Benfica desde 1990.
Jesus tem deixado marca no clube, num momento em que tem mais um ano de contrato e é, desde que Otto Glória serviu as "águias" entre 1954 e 1959, o treinador com mais tempo à frente da equipa, num projeto que nem sempre deu os resultados esperados, mas voltou a fazer do Benfica uma equipa entusiasmante.
Lusa