O que os estudos internacionais mostram é que a realização sistemática de uma TAC de baixa dose permite diagnosticar a doença em fases iniciais e reduzir a mortalidade em mais de 20%.
É por isso que Bárbara Parente, pneumologista há mais de 30 anos, considera a implementação de um rastreio ao cancro do pulmão em grupos de risco uma emergência nacional. Por iniciativa própria, escreveu ao Presidente da República.
“É minha obrigação alertar para a necessidade da implementação de um rastreio em Portugal como já se faz em outros países. Evidentemente que nós estamos bem substanciados ao nível dos estudos americanos , ao nível dos estudos europeus . Há vários países no mundo, vários países na Europa que o estão a fazer e eu tenho a certeza que o rastreio em grupos de risco selecionados que é eficaz e que vai poupar muitas vidas”, explica Bárbara Parente, pneumologista da CUF
A pneumologista faz parte do painel de peritos que desenhou um projeto-piloto em 2021, promovido pela associação de doentes Pulmonale. Na prática clínica, vê frequentemente fumadores pesados que, por sua conta, conseguem recorrer a uma consulta de vigilância.
“Não há nenhuma data para isso. Continuamos sem saber quando e neste entretanto os doentes continuam a ser diagnosticados nesta fase e isto ,para além do custo pessoal relativamente a estes doentes, isto para a ansiedade também acarreta vários problemas porque um doente tratado numa fase avançada tem um custo de tratamento elevadíssimo”, diz Isabel Magalhães, associação Pulmonale
O coordenador do programa nacional para as doenças oncológicas recusa falar em atrasos e sublinha que estes projetos têm de obedecer a normas definidas pela Direção Geral da Saúde (DGS). O que já está decidido, desde julho, é que convite ao rastreio não passará pelos centros de saúde.
“Saiu uma norma meteorológica para as doenças oncológicas e que diz que primeiro vai ser centralizada, vamos ter uma plataforma e as pessoas vão ter chamadas. Portanto, o que é importante é saber se o país tem condições e se existe equidade. É que eu não posso marcar um rastreio no centro do Porto e no centro de Lisboa, mas a pessoa que está no sítio mais recôndito de Portugal também ter de ter acesso a ele”, diz José Dinis, coordenador do programa nacional para doenças oncológicas
A comissão europeia recomendou a implementação deste rastreio no final de 2022. O anterior Governo prometeu um projeto piloto para o ano seguinte, mas até agora não arrancou e não foi definida uma nova meta. A Direção Executiva do SNS não respondeu ao pedido de esclarecimento da SIC.
O cancro do pulmão é o que mais mata em Portugal. Apenas 15% dos doentes estão vivos cinco anos após o diagnóstico.