Bloco Central

Pedro Marques Lopes: “Trump consagrou na ONU a nova ordem mundial, baseada no poder económico e militar”

Enquanto Trump anuncia ao mundo que a Europa, por causa do combate às alterações climáticas e à imigração, está a morrer, a democracia nos Estados Unidos da América, com ataques sistemáticos do seu presidente, está já de pés para a cova. Mas há quem esteja a lutar por ela. A análise de Pedro Siza Vieira e Pedro Marques Lopes, com moderação de Paulo Baldaia, no Bloco Central

Bloco Central

Jimmy Kimmel voltou ao activo, depois de receber o apoio de Stephen Colbert, Jon Stewart, Seth Meyers e Jimmy Fallon. Obviamente todos eles na mira de Trump, que já tinha deixado claro que odeia os opositores e não quer o melhor para eles. O ataque à liberdade de expressão é feito às claras.

A Casa Branca não se limita, no entanto, a tentar destruir os alicerces da democracia americana. Num relatório recente de um think tank pan-europeu é exposta a estratégia norte-americana de dividir e secundarizar os aliados europeus. Com mais ou menos colaboração, o apoio à extrema-direita europeia é central nesta estratégia.

Posta em causa a ocidente e testada ao limite a leste, a Europa vacila na hora de responder às constantes violações do seu espaço aéreo por drones e aviões russos.

Por cá, caminhamos a passos largos para as eleições autárquicas, os debates vão-se sucedendo, como se sucedem as noticias sobre o elevador da Glória e os incómodos que isso causa na candidatura de Carlos Moedas.

No Bloco Central, Paulo Baldaia modera a conversa entre Pedro Marques Lopes e Pedro Siza Vieira. A sonoplastia é de Gustavo Carvalho.

BLOCO CENTRAL DOS INTERESSES

PEDRO MARQUES LOPES

“25 de novembro”, livro da editora Terra Livre

É um livro dedicado a Nuno Melo e a todos os membros da comissão para as comemorações do 25 de Novembro. Foi publicado em 1976, pela Terra Livre (temo que a editora já não exista), muito em cima do acontecimento. Tem a cronologia dos eventos, entrevistas com os protagonistas, comunicados, magníficos cartoons da época e documentos relevantes para perceber o que se passou. Descobri-o no Chaminé da Mota (um alfarrabista do Porto) e não penso que ainda haja muitos exemplares. Era ótimo reeditá-lo para ver se as pessoas acima referidas aprendiam alguma coisinha.

“Por dentro do Chega”, livro de Miguel Carvalho (Objetiva, 2025)

Um trabalho de uma profundidade e análise jornalística muito fora do comum. Anos dedicados a saber de facto tudo sobre o Chega. A fundação, o aparelho, os financiadores, os movimentos sociais que o apoiam, as suas transformações nestes poucos mais de 6 anos de vida. A federação de descontentamentos, a inconsistência total de ideologia, os movimentos fascistas e nazis que lá estão, a exploração da ignorância, o aproveitamento da revolta está lá. Mas estão os vários pontos de união: a inveja, a misoginia, o racismo, a xenofobia, o ódio ao imigrante (o distante, já que o próximo é sempre diferente dos outros).

Fica claro que o movimento aposta no líder messiânico e que ele fez o partido para ser assim. Tratou de afastar toda a gente que lhe fazia frente ou que não seguia essa linha. Tendo a discordar do Miguel quando ele diz que o movimento sem o Ventura continuará. Não duvido que muitas das convicções que ele expressa continuarão a existir – como já existiam - mas é ele o fenómeno agregador.

O enfoque nas redes sociais e o profissionalismo na ocupação do espaço mediático é o traço que mais me interessou. Como o autor nota, não podemos deixar que as redes sociais sejam ocupadas por estas forças, porque é nas redes que se conquistam os mais jovens e onde a verdade e a mentira são definidas. Os partidos tradicionais demitiram-se disso, o que é grave. A análise da maneira como se criam casos para ocupar o espaço público é muito boa.

Ficou-me esta frase do José Gil, no livro “Portugal, Hoje: o medo de existir”, que o Miguel cita. Escreveu ele que se nada fizéssemos, seríamos encurralados por um outro tipo de regime que se aproveitaria de circunstâncias económicas, sociais e psicológicas “para operar uma derrocada na democracia rumo a um sistema autocrático de tipo desconhecido.” É um trabalho notável que vai servir como manual para toda a gente que se dedica a tentar perceber estes movimentos.

Pedro Siza Vieira e Pedro Marques Lopes analisam os acontecimentos e os protagonistas da semana, com moderação de Paulo Baldaia. Quinze anos depois da estreia na TSF, os episódios passam a sair à quinta-feira, dia de Conselho de Ministros, no Expresso. A fechar, e como sempre, o bloco central de interesses, com sugestões para as coisas importantes da vida.

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