O ex-presidente do conselho de administração do hospital de Gaia faturou mais de 50 mil euros em cirurgias adicionais, realizadas aos fins de semana, no próprio hospital. Apesar do cargo de gestor publico implicar exclusividade de funções, Rui Guimarães diz que há um enquadramento legal que lhe permite realizar atividade remunerada como anestesista. O caso está a ser investigado pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
O processo foi aberto em junho do ano passado, por suspeitas de acumulação de funções e conflito de interesses.
Rui Guimarães, médico anestesista, assumiu o cargo em agosto de 2019, depois de ter sido durante vários anos diretor clínico no hospital de Barcelos.
“Nunca aceitaria ser presidente do conselho de administração de um hospital sem poder manter a minha atividade clínica. Eu sou médico”, afirma Rui Guimarães.
Afirma que esteve três anos sem entrar no bloco, já que a acumulação de funções enquanto gestor público implica a autorização expressa do ministro da Saúde.
Em setembro de 2022, Marta Temido assinou o despacho que autorizava a prática de atividade assistencial excecional, de forma remunerada, dentro do que está previsto na lei. Rui Guimarães garante, por isso, que não cometeu qualquer ilegalidade e que fez chegar toda a documentação à IGAS.
“Fi-la sempre fora do horário de trabalho, para que não houvesse nenhuma incompatibilidade – aos fins de semana (sábados e domingos), sem nunca ter nenhum conflito. Marcava o dedo à entrada e à saída. A minha assiduidade está registada”, afirma. “Esta atividade foi completamente escrutinada pelo hospital.”
Saída da administração do hospital foi polémica
O médico liderou a ULS Gaia/Espinho durante quase seis anos. O mandato terminou em dezembro do ano passado e Rui Guimarães não foi reconduzido pela ministra Ana Paula Martins. Acredita que está a ser alvo de retaliação pela atual liderança do hospital.
A substituição de Rui Guimarães foi polémica: vários diretores de serviço manifestaram apoio ao médico através de um abaixo-assinado e o PS, a IL e o Bloco de Esquerda visitaram o hospital, naquilo que foi visto como um apoio à recondução no cargo.
Questionada pela SIC, a ULS Gaia Espinho diz que recebeu denúncias sobre a matéria, mas que cabe à IGAS investigar. Acrescenta que o pagamento de cirurgias adicionais representa 4% dos gastos em remunerações nesta unidade. E que desde o início do ano está a ser revisto o regulamento da atividade clínica em horas extra.