A crise na habitação tem impactos na saúde física e mental das populações, sobretudo dos mais velhos. Um estudo do Instituto de Saúde Pública, realizado no Porto, aponta que o deslocamento forçado e as más condições das casas aumentam a solidão e pioram a função cognitiva.
Ao fim de quatro anos e através de seis estudos, foi possível verificar que a gentrificação e a insegurança habitacional impactam a saúde das populações. Tanto a condição física, como a saúde mental.
“Ansiedade, depressão e depois também impactos ao nível da saúde social, questões de isolamento e solidão”, refere Ana Isabel Ribeiro, investigadora do Instituto de Saúde Pública.
Em termos de saúde física, é afetada a “prática de atividade física”, os “hábitos alimentares" e até “o próprio sono”.
Os mais velhos são os mais expostos ao risco. Através de um estudo com 600 participantes, foi analisada a ligação entre as condições das casas e como afetam os indicadores nesta fase da vida: a qualidade do sono, a função cognitiva, a solidão e a perceção de envelhecimento saudável.
"Tem a ver com o facto de a população idosa ter uma grande ligação ao lugar onde vive, além de ter restrições ao nível financeiro e de mobilidade. Acaba por estar mais exposta ao que acontece em torno da casa”, explica Ana Isabel Ribeiro.
Um outro estudo desenvolvido no Porto aponta ainda que moradores forçados a deslocarem-se, por causa do aumento das rendas ou da não renovação de contratos, revelaram ansiedade, depressão e dificuldades em dormir.
Noutro trabalho do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, com 6 mil participantes, foi estudado o impacto das mudanças de casa frequentes e forçadas em crianças até aos 10 anos. Concluiu-se que afeta o desenvolvimento cognitivo e que aumenta o risco de comportamentos agressivos e a exposição ao bullying.
“As crianças que mudavam mais frequentemente de casa tinham menores níveis de QI (...) e estavam mais frequentemente envolvidas em violência na escola, quer como agressoras, quer como vítimas”, expõe a investigadora.