Um autocarro da Carris foi esta noite apedrejado no Bairro da Boavista, na freguesia de Benfica. A PSP reforçou o dispositivo policial em Lisboa e na Área Metropolitana na quarta noite consecutiva de distúrbios após a morte de Odair Moniz. Para Luís António Santos, “o cenário é nesta altura mais complicado para o Governo do que foi há anos atrás, quando aconteceram coisas semelhantes” e critica a atuação do Executivo, em especial a atuação da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco.
“Ontem [quinta-feita] houve uma reunião de dois ministros responsáveis da área, mas depois quem fala é o ministro da Presidência, ou seja, nós temos uma ministra da tutela que é praticamente ausente ou que quando se pronuncia, pronuncia-se em circunstâncias que são, percebe-se bem, complicadas, difíceis. Logo a seguir, geralmente aparece o primeiro-ministro a dizer uma outra coisa sobre o mesmo assunto. E, portanto, há aqui esta fragilidade interna do Governo”, realça.
O professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho explica a situação é ainda mais complexa e tensa por “termos no ambiente político nacional, o aparecimento de sinais de discurso de ódio”.
“No momento em que a maioria de nós não sabe exatamente o que aconteceu e as autoridades estão a investigar, há inquéritos e depois eventualmente haverá processos judiciais, haver agentes políticos que se precipitam para comentários, seja num sentido ou noutro, não ajuda à serenidade”, lamenta, em entrevista na SIC Notícias.
Sobre a manifestação convocada pelo Chega de apoio aos polícias, no mesmo dia e local onde já havia sido anunciada outra manifestação por parte de familiares, amigos e associações por justiça pela morte de Odair Moniz, Luís António Santos sublinha que “é mesmo irresponsável".
“É um aproveitamento que eu acho que não é aceitável na vida política de uma situação muito frágil. Houve uma pessoa que morreu, houve um condutor de autocarro que ficou ferido em estado grave. Há pessoas que vivem naquela zona e que tiveram a sua vida afetada pelo que aconteceu. Há questões de falta de envolvimento do Estado a vários níveis nalgumas regiões, sobretudo das grandes áreas metropolitanas (…) termos reações políticas que são epidérmicas, que são reações políticas, algumas com frases que eu acho que são inaceitáveis no discurso político numa sociedade democrática”, afirma.
Amadeu Guerra: “Há maior presença do que com a Procuradora anterior”
Em relação à posição do novo Procurador-geral da República, Amadeu Guerra, o professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho destaca o “tom correto”.
“Há maior presença do que com a Procuradora anterior e isso é importante porque há aqui um sinal que também se passa de reforço da ideia de serenidade social, da paz social. Por um lado, estou presente e por outro não me posso naturalmente pronunciar de forma detalhada sobre as circunstâncias, porque as coisas vão acontecer, as pessoas que trabalham comigo estão a acompanhar esta situação. Parece-me que é o tom correto”, explica Luís António Santos.